Versos de Petrarca fecham este disco: «Da bela ramagem caía/ [...] uma chuva de flores sobre o seu regaço; [...]Uma flor caía ao seu lado,/ outra sobre suas tranças louras/ [...] outra se pousava no solo, e outra na água;/ outra, girando com um vago movimento,/ parecia dizer: “aqui reina Amor”.» Escreve Guillermo Pérez que esta peça «entrelaça as vozes do madrigal original de [Jacques] Arcadelt com as da versão de [Vincenzo] Ruffo para celebrar o “reino de amor”». O disco é uma celebração da voz e do seu diálogo com os instrumentos, através da música de Ruffo e Arcadelt, e ainda de Philippe Verdelot, Clément Janequin, Domenico Ferrabosco e Jhan Gero, músicos do século XVI, tempo de uma «frenética eclosão, nunca vista, de obras e métodos consagrados exclusivamente ao desenvolvimento da linguagem e da prática instrumental, em paralelo à arte vocal», já que a voz era vista como um modelo «superior» e «mais digno». É esse diálogo de voz e instrumentos que o disco evidencia, recorrendo aos sentimentos e à linguagem amorosa – mitológica, contemporânea, apaixonada ou comparando-se ao martírio («Assim o viver me mata,/ assim o morrer me devolve à vida») e à expressão religiosa («a doce luz/ que me mostra o caminho que conduz ao céu...»). Um disco que nos descobre mais um dos imensos e preciosos tesouros que a arca da música antiga guarda.
Título: Eros & Subtilitas – Capricci, Madrigali e Danze in Dialogo
Intérpretes: Tasto Solo; dir. Guillermo Pérez
Edição: Alia Vox
Disponível em lojas e nas plataformas digitais
Entremos neste disco, então, pela casa. Home, a primeira composição que dá título a esta obra de Francisco Sassetti, faz-nos penetrar numa música pacificadora, como quem entra em casa e se senta a descansar ou a contemplar o horizonte ou, quem sabe, a escutar uma música assim. Uma música que nos leva pela mão, a reconhecer espaços onde somos nós, onde somos por inteiro, onde tudo nos fala do que nos é mais querido e próximo, e de como a vida pode, poderia (deveria) ser tranquila e pacificada. O disco faz-se, em boa parte, de movimentos tranquilos e apaziguadores, como se fosse uma meditação sobre a casa, as pessoas que a habitam, os objectos e as experiências do quotidiano: o sonho de Filipa, os nocturnos, a aurora, a alegria de Sara, as portas de correr, a música de Francisco filho, a inocência, o adeus... E, de novo, o dia longo que passou e o refúgio que ele pede – uma casa, um abrigo. Um disco que em três ou quatro instantes fugazes nos traz Michael Nyman ou Sakamoto muito ao longe, mas também muito ao perto, na beleza e intimidade que nos dá a cada andamento, a cada gesto de meditação. Um disco que vem a calhar para as noites longas e tranquilas que começamos a ter, um disco para nos dizer que sem as tristezas do mundo seríamos todos mais felizes.
Título: Home [Casa]
Autor e intérprete: Francisco Sassetti
Edição: Uguru
Disponível em lojas e nas plataformas digitais