Música
18 outubro 2024

Disco Outubro 2024

Tempo de leitura: 3 min
O jornalista António Marujo destaca nesta edição os discos «Praia-Bissau» de Fattú Djakité e «De tu casa a la mia» de Uxía e Javier Ruibal.
António Marujo
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A magia da Guiné-Bissau, das suas gentes, das terras, dos rios e das ilhas dos Bijagós é especial, conta quem por lá já andou. Tão fantástica quanto, por oposição, é trágica a destruição que os gangues da droga e das armas levaram ao país, convertendo-o num dos mais pobres do mundo, assolado por frequentes golpes e contragolpes, violência e corrupção, traindo os sonhos de paz e desenvolvimento que Amílcar Cabral tinha. «Guiné, oh minha terra,/ Coitada», canta a guineense Fattú Djakité, em «Guine Bissau», em forma de lamento saudoso pelo seu país natal (Fattú vive em Cabo verde desde os cinco anos). Um lamento que se aprofunda, por exemplo, em «Rafugiado di guerra»: «Na minha terra tem guerra, tem miséria/ [...] Crianças pequenas em cena, pele preta, morena, escura/ Que nem sabe direito o que é sonho, mas, tristonho, já sabe o que é tortura/ O sol castiga, fadiga, nós dançamos com a dor, com o peso de um andor/ Fé em Nosso Senhor e o ronco na barriga (todo santo dia)/ Tudo é guerra, tudo é briga/ Em fila como formiga/ Esmagada de forma cruel pelo papel dessa política inimiga.» O título deste disco, Praia-Bissau, celebra uma migração que não descola da raiz mas que, a partir dela, alarga olhares sobre trágicas realidades. Mas, com a sua voz poderosa, Fattú Djakité propõe uma música que não esquece a alegria nem a esperança, uma música que liga os ritmos tradicionais com a expressão popular mais contemporânea e que, de passagem, afirma a esperança em dias melhores. Como em «O Mundo Virou», cantada em ritmo de samba: «O mundo virou, o mundo virou/ Que mundo virá?/ [...] Passarinho parou de cantar/ O rio secou/ O vento não quer mais soprar/ Alegria acabou/ Mas o Sol insiste em nascer/ O Sol é que teima em brilhar.» 

Título: Praia-Bissau

Autora e intérprete: Fattú Djakité

Disponível nas plataformas digitais

 

Ouça o disco:

 

 

 

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Este disco é uma história de encontros: entre a poesia da galega Rosalía de Castro e do andaluz Federico García Lorca, entre as vozes da (também galega) Uxía e do igualmente andaluz Javier Ruibal, entre dois grandes poetas e dois grandes músicos e cantores, entre Granada e Santiago, entre a casa «minha» e a casa «tua». Lorca tinha uma grande admiração por Rosalía e pela Galiza, traduzida nos seus Seis Poemas Galegos. Neste disco, Uxía e Ruibal exprimem não só essa proximidade entre ambos os poetas espanhóis, como põem a poesia deles em diálogo e com a música agora composta, mesclando a expressividade andaluza com o lirismo galego. Ou seja, mostrando como a poesia e a música são linguagens universais, que tão bem exprimem a nossa comum humanidade. Da tua casa até à minha. 

 

ítulo: De tu casa a la mia

Autores e intérpretes: Uxía e Javier Ruibal

Disponível nas plataformas digitais

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Tags
Discos
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EDIÇÃO
Novembro 2024 - nº 751
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