Título: Hallelujah Syriac Christmas Hymns
Intérprete: Syriac Music Choir
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A Síria é um espantoso mosaico religioso e foi já um dos centros do Cristianismo. A diversidade inclui muçulmanos sunitas e xiitas, cristãos, drusos. Dentro de cada denominação, há ainda um grande pluralismo de grupos: entre os cristãos, que eram cerca de dez por cento da população antes de se iniciar a guerra civil, em 2011, há ortodoxos gregos, ortodoxos sírios, assírios, maronitas, caldeus, arménios, e católicos romanos, melquitas e siríacos.
Sabemos a importância do actual território sírio na história do Cristianismo: Saulo de Tarso converteu-se a caminho de Damasco, em Antioquia os cristãos foram assim designados pela primeira vez e no Concílio de Niceia (no ano 325), havia pelo menos 22 bispos sírios. Inácio de Antioquia (morto em 115, em Roma) é um dos nomes grandes dos primeiros séculos.
A partir do século vii, o Islão e vários califas mais violentos e intolerantes discriminaram os cristãos. Por volta do ano 900 eles eram menos de metade e, em 1350, dez por cento da população. Em 1860, 25 mil cristãos foram mortos em três dias em Damasco, e só a vitória de britânicos e árabes sobre os turcos na Grande Guerra 1914-18 devolveu alguma liberdade aos cristãos – coincidindo com a chegada de muitos arménios e assírios, fugidos ao genocídio na Turquia.
Durante o meio século do regime dos Assad (pai e filho), a maioria dos cristãos era relativamente protegida. Mas com a guerra civil, sucederam-se raptos, assassínios, violência e perseguições.
Apesar de tudo isso, foi possível ao Syriac Music Choir gravar em 2023 este disco de hinos cristãos sírios de Natal, já depois de, em 2017, ter gravado um disco com título «Syriac Passion» (Paixão síria). Ritmos corais e jubilosos, onde se percebe a influência da música ocidental mesclada com a entoação da voz e a construção melódica próprias da sonoridade do Médio Oriente, o disco é uma bela homenagem à resiliência dos povos contra os senhores da guerra. O futuro imediato da Síria é ainda imprevisível, mas este «Hallelujah» ecoa bem fundo como um grito de alegria e de construção da paz – que acaba, aliás, em ritmo dançante, como uma celebração festiva. Aleluia, Síria.
Ouça um tema do disco:
Título: Alepo e Outros Silêncios
Autor: Luís Tinoco
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Como complemento, pode escutar-se «Alepo e Outros Silêncios», do português Luís Tinoco, galardoado em Dezembro com o Prémio Pessoa. O tema Alepo, com o nome da cidade síria, cruza «diferentes fontes musicais», ao mesmo tempo que presta «homenagem àqueles que diariamente colocam a sua vida em risco ao atravessar o Mar Mediterrâneo, fugindo de vários conflitos e adversidades», na angústia e na incerteza, diz o próprio. «A música pode então tornar-se um refúgio, uma companhia, uma memória. Na pressa da partida, pergunto-me se não será esta memória a bagagem mais preciosa que se transporta e, no silêncio de uma viagem nocturna, alguém se reconforta ao recordar melodias da terra que ficou para trás.»
Ouça o teaser do disco: