Solo le Pido a Dios é um hino contra a indiferença perante a guerra, que o argentino León Gieco compôs em 1978: «Só peço a Deus/ que a dor não me seja indiferen-
te/ […] que a guerra não me seja indiferente/ é um monstro grande e pisa com força/ Toda a pobre inocência do povo.» Na altura em que a canção foi composta, como contou o jornalista Manuel Costa Monteiro no 7Margens, estava-se à beira de uma guerra entre o Chile e a Argentina por causa do canal Beagle, que foi evitada também pelo contributo do Papa João Paulo II. A canção foi um «símbolo de resistência» na guerra das Malvinas, entre Argentina e Inglaterra, em 1982 e, em Maio de 2023, León Gieco cantou-a perante o Papa Francisco, integrado numa delegação argentina a um encontro inter-religioso no Vaticano. Em Novembro de 2023, depois do início dos bombardeamentos em Gaza, Gieco gravou de novo a música na Tekkia Sufi de Colegiales, centro muçulmano sufi de Buenos Aires, com o cantor Gastón Saied, da comunidade judaica da cidade, e a vocalista Nuri Nardelli, do Alma Sufi Ensamble. Em espanhol, árabe e hebraico, fizeram-no como um pedido pela paz no Médio Oriente. Na improvisação final, Saied canta, em hebraico, que «Deus é o Deus do perdão, perdoa os nossos pecados e concede-nos o perdão», enquanto Nardelli, em árabe, canta que «pedimos perdão por tudo o que não fizemos bem». O abraço final dos três músicos diz-nos que a guerra não nos pode deixar indiferentes.
Título: Solo le Pido a Dios
Autor: León Gieco, com Gastón Saied, Nuri Nardelli e Alma Sufi Ensamble
Disponível em https://youtu.be/TXOUpXKn1NM
A Rota da Seda, que ligava a China à Europa, tinha um dos seus principais entroncamentos em Samarcanda (actual Uzbequistão). A cidade deu título a um dos discos do compositor italiano Roberto Vecchioni que, em muitas canções, cruza a poesia e a criação com referências autobiográficas. O tema que dá título ao disco, de 1977, inspira-se numa história oriental, de um soldado que, ao celebrar o fim da guerra, vê a morte sob forma de uma mulher idosa no meio da multidão. Correndo para Samarcanda para escapar-lhe, é lá que a encontra à sua espera. «Houve uma grande festa porque a guerra tinha acabado. […] Era primavera e as mulheres podiam finalmente, após tantos anos, abraçar de novo os seus homens.» Mas a guerra traz sempre a morte aos que a fazem, pode concluir-se da história. Na sua última música, publicada em 2024, Vecchioni pede «Sonha, rapaz, sonha»: «E dir-te-ão palavras vermelhas como o sangue, negras como a noite/ Mas não é verdade, rapaz, que a razão esteja sempre com os mais fortes/ Eu conheço poetas que movem rios com os seus pensamentos/ E marinheiros sem fim que conseguem falar com o céu./ […] Nenhum reino é maior do que esta pequena coisa que é a vida/ […] A vida é tão grande que quando estiveres prestes a morrer/ Plantarás uma oliveira, ainda convencido de que a verás florescer...» Uma melodia fortíssima, uma canção poderosa. As «palavras vermelhas como o sangue, negras como a noite» não terão a última palavra.
Títulos: Samarcanda / Sogna, Ragazzo, Sogna
Autor: Roberto Vecchioni
Disponíveis nas plataformas digitais
Veja o vídeo da canção Sogna, Ragazzo, Sogna