Títulos: Lost Voices of Hagia Sophia (canto medieval bizantino cantado na acústica virtual de Hagia Sophia)
Good Friday in Jerusalem (canto medieval bizantino da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém)
Passion Week, de Maximilien Steinberg (e cantos para a Semana Santa de Nikolai Rimsky-Korsakov)
Intérprete: Cappella Romana
Direcção: Alexander Lingas | info@cappellaromana.org ou www.cappellaromana.org
Lost Voices of Hagia Sophia (Vozes perdidas da Divina Sabedoria) é um disco ideal para tempos em que nos confinamos a viver afectos e contactos de forma virtual, com uma proposta inédita: recriar digitalmente o som daquela que já foi basílica e mesquita (a partir de 1453), hoje monumento património da humanidade. «O ouvinte é envolvido por ondas difusas que emergem das colunatas, [...] impulsos de energia acústica da abside [...]. A experiência de ouvir cantar em Hagia Sophia é quase a de o próprio edifício estar a cantar», lê-se na apresentação do disco.
Esta é uma obra extraordinária da Cappella Romana, grupo vocal de Portland (Estados Unidos), com um caminho marcante na música bizantina. Este disco celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz, em Constantinopla, e o próprio edifício que, quando foi construído no século vi, era o maior do mundo e um prodígio da engenharia: com espaço e acústica relacionados de forma profunda, a reverberação do som dura mais de dez segundos.
O que se escuta é, por isso, uma «manifestação sensorial do divino», como escreve Bissera V. Pentcheva. Seja na percepção sonora, mas também na imaginação ou na memória, para quem (nunca) esteve em Hagia Sophia. Em grego, respirar e espírito são a mesma palavra (pneuma). Uma dupla semântica que traduz «o canto como uma forma de inspiração e vivificação».
Dois outros discos do grupo celebram a Sexta-Feira Santa em Jerusalém com cantos da Igreja do Santo Sepulcro; e a Passion Week, de Maximilian Steinberg (que inclui também peças da Semana Santa, de Rimsky-Korsakov). No primeiro (o ofício começava no Monte das Oliveiras, durante a noite), o canto é intenso, misturando o tom de sofrimento com a certeza da revivificação (como na «Procissão para o Gólgota»), terminando com o tom meditativo de «Na Capela da Santa Custódia».
Finalmente, Passion Week (a primeira gravação em disco) celebra o misticismo russo, com uns belíssimos «Aleluia», «Eis que vem o noivo» e «A câmara nupcial», cantados em diálogo entre vozes masculinas e femininas (que se mantém ao longo do disco). A obra de Maximilian Steinberg (1883-1946) como, depois, as peças de Rimsky-Korsakov sublinham a profunda espiritualidade russa que, no final do século xix e início do século xx, atravessou um período de renascimento, estancado pela revolução bolchevique de 1917, mas que permitiu legar-nos obras-primas como estas.
Belíssimos e obrigatórios.
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