Nomes já lendários, clássicos ou mais recentes dirigiram e gravaram as nove sinfonias de Beethoven: Leonard Bernstein, John Eliot Gardiner, Herbert von Karajan, Daniel Barenboim, Jos van Immerseel...
Porque fazer, então, um novo registo desta colecção de obras-primas da música? O próprio Jordi Savall explica: «Para estas versões partimos da ideia fundamental de recuperar o som original da orquestra tal como Beethoven as imaginava, bem como a questão essencial do tempo, referida pelo próprio compositor. Executámos toda a obra orquestral com instrumentos que correspondem aos utilizados na altura, recorrendo a um número de intérpretes semelhante ao arranjado pelo compositor, de cerca de 55-60 músicos. Seleccionámos 35 músicos do Le Concert des Nations e, para os outros 20, escolhemos jovens músicos de diferentes países da Europa e do resto do mundo. O principal objectivo é reflectir, no nosso século xxi, toda a riqueza e esplendor destas sinfonias, graças a um verdadeiro equilíbrio entre as cores e a qualidade do som natural da orquestra, tornando cada vez mais imortal o nome de Ludwig van Beethoven.»
Temos, assim, à disposição o primeiro conjunto de sinfonias: três discos, com as primeiras cinco obras, das nove compostas por Ludwig van Beethoven – cujos 250 anos do nascimento se celebram este ano (sem que se conheça a data exacta). As restantes quatro sinfonias, cuja preparação, ensaio e gravação estavam previstas para concretizar entre a Primavera e o Outono deste ano, tiveram de ficar em suspenso à espera da evolução da pandemia.
O que já temos neste primeiro triplo disco, no entanto, é já muito. Desde logo, esses cumes dentro do conjunto que são a terceira e a quinta sinfonias. No caso da Eroica, a afirmação do espírito combativo e do herói, da superação e do sublime. Esta obra, recorde-se, foi inicialmente intitulada Sinfonia Bonaparte, mas o título mudou quando Beethoven soube que Napoleão se fizera coroar imperador, traindo a esperança que muitas pessoas tinham colocado na sua liderança para conseguir mudanças sociais na Europa. E acabou destinada a celebrar «a recordação de um grande homem». Depois, a Sinfonia n.º 5, em Dó maior, cujas primeiras quatro notas são «o motivo mais conhecido da música de todos os tempos», como escreve Josep Maria Vilar e nos faz transcender.
Mas há mais motivos de contentamento: o registo das outras três obras exprimem bem o carácter jubiloso e reflexivo da Sinfonia n.º 1, estreada e dirigida pelo próprio Beethoven a 2 de Abril de 1800, quando o compositor estava a completar 30 anos e se abria um novo século – e um novo tempo também na música. Ou o tom de despedida dos fundamentos de Beethoven no Antigo Regime, como assinala André Tubeuf, que a Sinfonia n.º 2 regista, já marcada pela surdez progressiva e depressões do músico. E ainda o tom de suspense, de iminência, que a Quarta traduz.
É importante notar que, apesar da surdez crescente e das tentações suicidas que atormentaram o compositor enquanto compunha várias destas obras, as diferentes sinfonias trazem-nos quase sempre uma força anímica que contrasta com aquele que seria o estado de espírito de Ludwig no momento da criação. Como se a música traduzisse a luta interior e a vontade de superação que encontramos nestas obras, a «força revolucionária» de que Jordi Savall fala, que o título exprime e que esta gravação tão bem capta.
Título: Beethoven Révolution
Intérpretes: Le Concert des Nations; dir. Jordi Savall
Edição: Alia Vox | vgm@plurimega.com