O Akáthistos é um dos hinos mais importantes da liturgia ortodoxa, que significa literalmente “não sentado”, porque a peça é para cantar de pé. Começou por ser cantado provavelmente no início do século VI, no tempo depois do Natal: uma forma de celebrar o “papel cósmico” da Virgem Maria como mãe do Verbo de Deus encarnado, como se lê na apresentação deste disco duplo. Progressivamente, passou a sê-lo à volta do dia 25 de Março, festa da Anunciação. Hoje, o Akáthistos é cantado por inteiro no quinto domingo de Quaresma e continua a ser inspiração para novas peças – como o Akathist of Thanksgiving (Akáthistos de Acção de Graças), de John Tavener. Neste disco, cuja peça foi composta em 1998 e agora gravada pela primeira vez, Ivan Moody (arcipreste do patriarcado Ecuménico de Constantinopla na diocese de Espanha e Portugal, que trabalha em Lisboa) tomou a tradução inglesa do Akáthistos. O resultado é deveras extraordinário, aliando a profundidade da música bizantina à intensidade da expressão do solista e dos coros (masculinos ou femininos) e à linguagem contemporânea dos ornamentos melódicos que enchem a expressão musical. Depois de ter trazido a esta coluna os Cappella Romana em Abril, Junho e Outubro deste ano, esta é mais uma extraordinária gravação do grupo a destacar.
Título: The Akáthistos Hymn
Autor: Ivan Moody
Intérpretes: Capella Romana; dir.: Alexander Lingas
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Uma música quente de Outono, selvagem pela energia, fresca pela novidade, nostálgica e profética nas mudanças de ritmo, espiritual na elevação que provoca. O guitarrista norueguês Terje Rypdal celebra tudo isso em Conspiracy (“Conspiração”) com a cumplicidade do teclista Ståle Storløkken, o baterista Pål Thowsen, e o jovem guitarrista de baixo Endre Hareide Hallre, e explorando, diz a nota de apresentação do disco, «o potencial sonoro da guitarra eléctrica com o amor de um improvisador de rock pela energia crua e o sentimento de espaço e textura de um compositor». A peça que dá título ao disco é intensamente pesada, apelando a um progressivo arrebatamento. Mas logo a seguir By His Lonesome (“Pela sua solidão”) entra num registo meditativo, um diálogo entre o órgão e a guitarra, com intrusões das percussões e restantes instrumentos. Sem querer demarcar influências a uma música livre e solta como esta, não será despropositado sentir aqui reminiscências de Hendrix, Coltrane, Miles Davis, Ligeti ou Penderecki, que Rypdal escutava, mas também de bandas de rock progressivo, como os Yes, nos movimentos crescentes, construção sinfónica e sonoridade “espiritual” dada pela guitarra. Uma bela surpresa, que termina com uma Dawn (“Aurora”) misteriosa e fecunda.
Título: Conspiracy
Autor: Terje Rypdal
Intérpretes: Terje Rypdal, Ståle Storløkken, Endre Hareide Hallre e Pal Thowsen