O saxofone de Joe Lovano começa este Jardim de Expressão com um lindíssimo tema (Chapel Song) composto depois de o músico ter estado numa igreja em Viena a escutar órgão. Essa dimensão espiritual do disco continua com The Sacred Chant, e conclui-se com Zen Like, um apelo à meditação. Mas a magia do saxofone de Lovano, que se confunde tantas vezes com os timbres da voz humana – e ao qual se juntam o piano de Marilyn Crispell e as percussões de Carmen Castaldi – cria, como se define na apresentação do disco, uma música «ternamente melódica ou declamatória, harmonicamente aberta, ritmicamente livre, e espiritualmente envolvente», com respostas diferentes e subtis dos três intervenientes. Aqui, é a melodia que nos leva, num voo planado sobre a beleza.
Título: Garden of Expression
Autor: Joe Lovano
Intérpretes: Joe Lovano, Marilyn Crispell, Carmen Castaldi
Edição: ECM
Alfonsina y el mar tem aqui uma inspirada recriação, com o violoncelo de Anja Lechner a fazer vez e voz de Mercedes Sosa, a quem a alemã ouviu pela primeira vez cantar a zamba de Ariel Ramírez – o violoncelo por ser um instrumento de canto por excelência, diz Lechner. Em Moderato Cantabile, a violoncelista e o pianista François Couturier procuravam latitudes diversas, colocando em diálogo a Arménia e o Ocidente. Neste Lontano, são latitudes temporais e geográficas que se aproximam umas das outras – Giya Kancheli, Bach, Anouar Brahem (com a elegante Vague – E la nave va)... – para criar uma música que ora nos inspira, ora nos arrebata ou leva pela mão.
Título: Lontano
Intérpretes: Anja Lechner e François Couturier
Edição: ECM
Neste disco, Nuno Côrte-Real toma várias peças do compositor inglês John Dowland (c. 1563-1626), contemporâneo de Shakespeare e de William Byrd, célebre alaudista, europeu errante por força da menor consideração a que o seu trabalho era votado na pátria – e que permanece ainda hoje envolvido em mistério. As duas primeiras peças explicam: Côrte-Real toma o trabalho de Dowland e com ele estabelece um processo não só de diálogo, mas também de recriação. Que se inicia com uma espécie de aclamação, a que se segue o primeiro convite, pela voz de Ana Quintans: Come again, um «vem de novo» como quem pede um recomeço ou um olhar diferente. Um belo disco que desfaz barreiras temporais, mostrando como o passado é futuro e o presente se enraíza no passado.
Título: Time Stands Still
Autores: John Dowland e Nuno Côrte-Real
Intérpretes: Ana Quintans e Ensemble Darcos
Edição: Artway