O livreto deste disco abre com uma epígrafe de Mestre Eckart (1260-1328): «O meu olho e o olho de Deus é um só olho / e uma visão / e um conhecimento / e um amor.» Uma das músicas, When I was the forest (“Quando eu fui a floresta”), retoma também um texto do místico germânico medieval: «... Então regressei ao rio, / Regressei às montanhas. / Pedi mais uma vez a sua mão em casamento [...] / e quando aceitaram, / Deus esteve sempre presente nos meus braços. / E Ele não disse “Onde estiveste?” / Desde então soube que a minha alma – cada alma – sempre o abraçou.» Pode dizer-se que este excerto sintetiza bem esta obra da norueguesa Sinikka Langeland: harmonia intensa com o cosmos, música e a voz conjugadas em sons primordiais – de Deus, do Universo, da Natureza –, quase secretos e desconhecidos: a runa do título associada ao lobo remete para o nome da escrita dos antigos caracteres escandinavos e para as canções runa, uma tradição da região da Finnskogen, a «floresta finlandesa» da Noruega, que desde há muito inspira Langeland. Com a sua kantele (espécie de cítara, harpa de mesa finlandesa, que em dois dos temas do disco Sinikka converte em “oração”), a artista dá-nos uma música de mistérios e belezas profundas.
Título: Wolf Rune
Autora e intérprete: Sinikka Langeland
Edição: ECM
Um quarto de século depois, estamos perante a reedição do primeiro disco dedicado à lira de Espéria (o segundo foi editado há seis anos). Esta obra centra-se nos instrumentos de arco de Jordi Savall (lira, rabel, viola tenor e rebab) e as percussões de Pedro Estevan. A lira é um dos primeiros instrumentos tocados com arco e descritos na mitologia helénica e cujo primeiro rasto se encontra depois entre trovadores e jograis da Espéria – ou seja, as penínsulas itálica e ibérica. Neste disco inaugural de homenagem à lira, encontramos canções populares, tradicionais ou religiosas daquelas duas regiões (incluindo Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio – ele próprio incluiria judeus das comunidades sefarditas e árabes do Al-Andalus, bem como trovadores da Occitânia), do Norte de África e dos Balcãs. Orações, danças, lamentos ou homenagens em forma de música e de sons inteiros e mágicos.
Título: La Lira d’Esperia
Intérpretes: Jordi Savall e Pedro Estevan
Edição: Alia Vox