Algumas das marcas do trabalho dos Sete Lágrimas (dupla constituída por Filipe Faria e Sérgio Peixoto, a que se juntam outros músicos, consoante o programa) são a versatilidade, a criatividade e o arrojo – o que permite uma beleza ímpar e um trabalho de imensa qualidade, que se traduz em vinte anos de actividade e doze discos. Ou será o contrário, com os discos a traduzirem essa beleza e a grande qualidade do trabalho já feito?
O último acto desta produção é uma revisão do trabalho feito no livro-disco Twentie Yeares in Seaven Teares («Vinte Anos em Sete Lágrimas», em grafia inglesa antiga) com a qual se percepcionam a evolução e as diferentes abordagens do grupo: desde a música sacra antiga ou contemporânea (Lacrimae#1, Kleine Musik, Silêncio, Pedra Irregular, Vento, Missa Mínima), até à música de raiz tradicional de inspiração portuguesa ou ibérica (Diaspora, En Tus Brazos Una Noche, Terra, Peninsula, Cantiga, Um Dia Normal) ou que se cruzou com estas influências, em geografias tão improváveis quanto o Japão, a Índia, Macau e África, além da mais «óbvia» América Latina.
A revisão deste percurso oferece-nos uma escolha criteriosa, com vários temas que já se podem dizer clássicos na trajectória do ensemble. Num curto, mas interessantíssimo ensaio intitulado Voo, Luís Pedro Cabral faz um percurso usando os títulos de todos os discos e no qual afirma, a dado passo: «Há nas lágrimas um paradoxo assombroso, que brinca constantemente às escondidas com o mito sistémico da imortalidade.» Os Sete Lágrimas são (também) isso.
Título: Twentie Yeares in Seaven Teares
Intérpretes: Sete Lágrimas
Edição: Arte das Musas
Manuel Cardoso é, a par de Pedro de Cristo, Duarte Lôbo ou Filipe de Magalhães, um dos nomes maiores da música portuguesa dos séculos XVI-XVII – por contraponto com a perda de independência política na época, como bem nota Luís Toscano na apresentação deste disco – de tal modo que é designado como a idade de ouro da música portuguesa. Nascido em Fronteira em 1566, formado em Évora, foi durante seis décadas mestre-de-capela e organista no Convento do Carmo, em Lisboa. Autor de cinco volumes de obras sacras, este disco é um repositório de algumas delas, com destaque para o Requiem (Missa pro defunctis a 4 vozes) e as Lamentações de Quinta-Feira Santa, de forte carácter meditativo, ou para a intensidade melódica e vocal do Magnificat e dos motetes escolhidos. Um compositor cuja enorme riqueza importa (re)descobrir, ajudados pela bela execução dos Cupertinos.
Título: Requiem – Lamentations, Magnificat & Motets
Autor: Manuel Cardoso
Intérpretes: Cupertinos; dir. Luís Toscano