Oito responsórios de Natal e duas missas – a de Santa Maria e a de Isabel e Zacarias – compõem este disco, que mostra porque é que Duarte Lobo é um dos nomes grandes da «idade de ouro» da polifonia portuguesa, com Pedro de Cristo ou Manuel Cardoso. Nascido cerca de 1565, Duarte Lobo terá estudado na Sé de Évora, antes de se tornar mestre-de-capela no Hospital Real de Todos-os-Santos, em Lisboa; ocuparia a mesma função na Sé de Lisboa, cerca de 1591, e ali ficaria quase cinquenta anos.
Como nota Luís Toscano, Lobo gozava de grande popularidade nas Américas e na Europa – em Londres, era um dos mais interpretados, a par de Haendel, Palestrina ou Tallis. Uma das obras de portugueses mais executadas e gravadas é Audivi vocem de caelo, o motete que abre o disco e adapta uma frase do Apocalipse («Do céu ouvi uma voz que me dizia: Felizes os mortos que morrem no Senhor»). Uma música simultaneamente serena e arrebatadora que nos leva pela mão.
Acrescente-se o tom jubiloso e festivo dos responsórios de Natal a que este tempo convida. As duas missas, compostas como paródias (com citações) de motetes de Francisco Guerrero (1528-1599), oscilam entre o meditativo e penitencial Kyrie ou Agnus Dei, e os afirmativos ou aclamativos Credo ou Gloria. Um belo presente de Natal.
Título: Masses Responsories & Motets
Autor: Duarte Lobo
Intérpretes: Cupertinos; dir. Luís Toscano
Uma música de renascimento e amor que nos chega do Paquistão, com paragem em Nova Iorque: Arooj Aftab, paquistanesa nascida na Arábia Saudita, dá-nos neste «príncipe abutre» um disco que vai do luto à superação da dor. Em 2018, a cantora perdeu o irmão mais novo (a quem o disco é dedicado) e um amigo. Depois da tentação de desistir de criar – «algumas situações amargas partiram o meu coração» –, Arooj percebeu que isso não fazia sentido. «Tinha de arrumar a minha cabeça e concluir o álbum», dizia ela ao Público, em Agosto. Até porque, como também canta, «viver sem nuvens não é maneira de viver».
A voz terna, sofrida, intensa unifica o diálogo de Arooj com a harpa e uma guitarra acústica (quase não há percussão no disco) e com a poesia de grandes autores da tradição urdu (Mirza Ghalib, por exemplo), persa e sufi – como em «Na noite passada», com poema de Rumi, o místico islâmico do século XIII, onde a Lua assume o símbolo da transcendência que tem na tradição muçulmana: «Na noite passada a minha amada estava como a Lua, tão bonita... Ainda mais brilhante que o Sol... Graça muito além do meu alcance. O resto é silêncio.»
O resto é silêncio e uma extraordinária beleza.
Título: Vulture Prince
Autora: Arooj Aftab
Disponível nas plataformas digitais