Nas primeiras apresentações, o segundo andamento da Sétima Sinfonia de Beethoven era frequentemente aplaudido, levando quase sempre à sua repetição. A história foi recordada por Jordi Savall, em Outubro, no concerto que dirigiu na Gulbenkian. Não era para menos: aquele trecho, que vai da inquietação ao júbilo, convoca uma grande comoção, que inevitavelmente levava à quebra de protocolos.
Este triplo disco é a segunda metade do projecto de Savall de gravar as nove sinfonias de Beethoven, pelos 250 anos do seu nascimento, em 2020. O plano pretendia, como explicava no primeiro álbum (aqui referido em Setembro 2020), «recuperar o som original da orquestra» tal como Beethoven o imaginara, com instrumentos da época e o número de intérpretes similar ao que ele desejara: entre 55 e 66 músicos, dependendo das sinfonias.
O que Savall nos dá é essa música cuja transcendência se confirma em momentos como o já referido, mas também nos últimos quatro andamentos da Nona Sinfonia (cujos 200 anos de composição se assinalarão entre o próximo Verão e 2024), que incluem a Ode à Alegria, de Friedrich Shiller, ou a história de um passeio no campo e na Natureza contada na Sexta Sinfonia – a «Pastoral».
Tudo isto servido por um conjunto de textos e ilustrações preciosas sobre o contexto da época, o processo compositivo e comentários de especialistas sobre Beethoven e a sua música. E a que não falta o pormenor picaresco – e heróico – de ter gravado estas quatro obras em plena pandemia, com surtos de covid a atingir o coro... Uma obra toda ela imprescindível.
Título: Beethoven Révolution – Symphonies 6 à 9
Intérpretes: Le Concert des Nations; dir. Jordi Savall
Edição: Alia Vox
O padre Manuel Luís (1926-1981) foi um dos grandes compositores de música litúrgica do século XX, que assumiu a reforma proposta pelo Concílio Vaticano II no campo celebrativo. Um dos seus grandes projectos, entre um vastíssimo repertório que continua a ser cantado por todo o País, foi musicar em português todos os salmos dos três anos litúrgicos.
A sua inspiração preferida era o gregoriano, muitas vezes cruzado com a tradição musical popular portuguesa. Os textos tinham como fonte principal a Bíblia, poemas litúrgicos e alguns de Fernando Melro.
Este disco duplo (um entre vários gravados pelo Coro do Seminário dos Olivais) é um excelente «manual» (mesmo se apenas com vozes masculinas, por razões inevitáveis) de como cantar uma obra que merece qualidade na execução, o que nem sempre acontece por esse País fora. Ouça-se, portanto.
Título: Cânticos Eucarísticos
Autor: P.e Manuel Luís
Intérpretes: Coro do Seminário Maior de Cristo-Rei – Olivais (Lisboa)
Edição: Associação Monsenhor Pereira dos Reis