Música
13 março 2022

Discos

Tempo de leitura: 3 min
As nossas sugestões musicais deste mês vão para «The Zealot Gene», um disco que é uma prova de vida, genialidade e beleza da música de Jethro Tull, e «Naked Truth» onde a música de Avishai Cohen nos separa do supérfluo e dá-nos a limpidez que só a delicadeza e a perfeição podem revelar.
António Marujo
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Flautista, compositor, líder e vocalista dos Jethro Tull, Ian Anderson é um mago da música, transformando em pérolas notas musicais e palavras misteriosas. Sem novos discos desde 2003 (álbum de Natal gravado na Igreja de St Bride, em Londres), os Jethro Tull regressam agora, com The Zealot Gene (“O gene zelota”). Diz Anderson: «Facilmente abrimos portas à doutrinação por meio de palavrões piedosos e de um corrosivo extremismo político. Juntemos-lhe preconceito, xenofobia e conservadorismo de direita e teremos uma ideia clara do que se trata.»

 

Disco1

Se já havia temas antigos de forte inspiração bíblica ou crítica à falsidade religiosa (My God, Hymn 43), agora todo o disco toma essas referências. Na apresentação, Anderson escreve, por exemplo, que Mine is the Moutain (uma das mais belas peças do disco) é uma espécie de parceira tardia de My God. Jacob’s tales afirma que somos «irmãos nascidos em igual graça» e, no tema inicial, Mrs Tibbets, referindo o nome do avião que levou a bomba a Hiroxima, pergunta: «Talvez se Pedro não se tivesse afastado, e se Judas não roubasse nenhum beijo, e se, e se Enola Gay?...» Um disco para dizer a «lealdade, compaixão, tolerância» ou a «firme resistência do amor» – e recusar os seus contrastes, «o favorecimento do ódio» ou os «alarmistas xenófobos». Um disco que é uma prova de vida, genialidade e beleza da música de Jethro Tull, como também viu quem porventura assistiu aos concertos da banda em Fevereiro, em Lisboa e Porto.

Título: The Zealot Gene

Autor e Intérprete: Jethro Tull

https://jethrotull.com e plataformas digitais 

 Disco2

O trompete do israelita Avishai Cohen leva-nos, neste disco, à verdade nua do título. Em tempos de pós-verdade, notícias falsas e negacionismos vários, esta música reconcilia-nos com a verdade que só o despojamento permite, como na «viagem pessoal e emocional» com que o músico caracteriza esta nova obra.

O poema musicado e declamado com que encerra o disco – Partida, da israelita Zelda Schneurson Mishkovsky (1914-1984), judia ortodoxa – é como que o culminar da viagem, também em forma de música, na reflexão que faz sobre a mortalidade, a gratidão, a vida: «É necessário começar a partida desde o esplendor dos céus e das cores da terra, para ficar sozinho e enfrentar o silêncio da morte, para se separar da curiosidade, das palavras, de todas as palavras que li e ouvi. [...] Separar-se do Shabath, da doçura do sétimo dia. [...] Do movimento físico e do movimento interior. Do amor e do ódio. Da música. E antes do fim, de viver com o medo da sua morte, e a certeza da minha própria morte.»

A música de Avishai Cohen separa-nos do supérfluo e dá-nos a limpidez que só a delicadeza e a perfeição podem revelar.

Título: Naked Truth

Intérpretes: Avishai Cohen e outros

Edição: ECM

vendaspt@distrijazz

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Música
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Novembro 2024 - nº 751
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