Na província chinesa de Xinjiang, quase tão vasta como a Índia, vive-se uma situação de crimes contra a Humanidade, que incluem tortura e prisão sistemática e em massa, perseguição e controlo permanente dos uigures, grupo étnico da região, de maioria muçulmana. No Verão de 2021, a Amnistia Internacional falava de uma «repressão draconiana», com esta população a ser «a mais vigiada do mundo», à mistura com a pressão para que esses grupos abandonem as suas tradições religiosas, práticas culturais e línguas locais. A par de expressões como a arquitectura, o vestuário ou a literatura, uma das manifestações dessas tradições culturais é a música, de que este disco antológico nos dá um pequeno vislumbre, com canções de Yili (Norte), Kashgar e Artux (Sul), da província de Xinjiang. Cantadas por um cantor masculino a solo, acompanhado por um de dois tipos diferentes de alaúde e percussão, as ondulações da voz e dos instrumentos e as mudanças de ritmo recordam expressões musicais dos países vizinhos, porventura mais conhecidas, como as do Paquistão. Concretamente, o muqam, género de música clássica, começa com uma longa introdução sem ritmo e aumenta depois a cadência. Embora com diferenças de estrutura, padrões rítmicos e instrumentação, inclui sempre música vocal e instrumental e, por vezes, também danças. Neste disco, as canções falam sobretudo de temas como a Natureza ou do amor – afinal, algumas das coisas que um governo totalitário quer roubar a estes povos. Esta música mostra-nos uma expressão cultural que não se pode perder.
Título: Folk Songs of the Uyghur Peoples
Intérpretes: Vários
Edição: Naxos World vgm@plurimega.com
Na Penny Black Music, este disco é resumido numa frase: «Lindas melodias e mensagens profundas que acalmam a alma». Mas é mais do que isso: aado significa, na cultura mandinga senegalesa, valores morais como as qualidades da personalidade individual, a generosidade, a hospitalidade ou o respeito para com as outras pessoas... A versatilidade melódica que a corá permite já foi referida neste espaço a propósito, por exemplo, dos monges beneditinos do mosteiro de Keur Moussa (no Senegal), que adaptaram o seu uso à liturgia, ou de músicos como Seckou Keita. Neste disco, ela assume de novo, nas mãos de Kadialy Kouyate, essa capacidade encantatória de exprimir o melhor de uma cultura sendo, também por isso, uma nova justa consagração deste instrumento. Num dos textos da editora, fala-se mesmo de uma capacidade “hipnotizante”, que se nota bem em temas como Buña, Sora ou Janjon Ba, em que Kouyate homenageia o grande guerreiro Fakoli que, no século XIII, se juntou a Sunjata Keita, sendo conhecido pela sua coragem. Um disco mágico
Título: AADO – Senegalese Kora
Intérprete: Kadialy Kouyate
Edição: Naxos World vgm@plurimega.com