Patrizia Gattaceca é uma das vozes das Nouvelles Polyphonies Corses, um dos grupos que nas últimas três décadas ajudaram a pôr a polifonia corsa no mapa da música de inspiração tradicional, trazendo-nos vozes do início do mundo. Neste disco, A Cerca (A busca), a compositora e cantora toma o mito de Noé e da Arca, recriando-o de forma poeticamente elaborada. Os textos dizem que «Não haverá vida se o homem for escravo se não se tornar humano e corajoso» (Ghjente di Noe); ou que «Queremos colocar a paz onde ruge a guerra» (Vechje Terre), numa referência ao trágico presente do conflito. Mas Noé também é nome de esperança e na música Sign of Life, a esperança são as mulheres: «Mulher, meu anjo,/ Minha liberdade minha escolha/ Além da minha dor/ Sobre minhas correntes/ Tu permaneces/ O sinal da vida.» A estrutura musical, com uma linguagem pop transparente, assume um diálogo permanente com a expressão musical corsa, em que a voz assume esse lugar fundador e iniciático, mesmo se neste caso Patrizia Gattaceca se faz acompanhar de vários instrumentos. Um disco que mostra também como uma história mil vezes contada pode ser recriada de forma poética e musical.
Título: A Cerca
Autora e intérprete: Patrizia Gattaceca
Edição: L’Ange Publishing
https://www.patriziagattaceca.com
No início do século XVIII – explica o fundador do Ludovice Ensemble, Fernando Miguel Jalôto, na apresentação deste disco –, vivia-se uma fase de transferência da corte francesa de Versalhes para Paris, motivada por razões que incluíam problemas sociais graves e que aquele autor enumera: más colheitas agrícolas, crises económicas, fome, reviravoltas políticas, guerras, mortes de herdeiros da coroa... Esta situação social levou à atracção por aquilo que era estranho ou estrangeiro, incluindo no campo musical. No campo musical, isso traduziu-se no gosto pelas influências italianas das sonatas e cantatas. São três cantatas e três concertos de alguns dos melhores autores do género na França barroca dos séculos XVII-XVIII que este disco reúne. Na cantata barroca, predominam os temas profanos e mitológicos, quase sempre com o amor como argumento principal. E poderiam ir buscar inspiração a temas literários como as Viagens de Gulliver ou o Dom Quixote ou a assuntos quotidianos ou temporais como as quatro estações, o café, as artes, a História, as batalhas ou o elogio de personalidades nobres ou da realeza. Um virtuoso exemplo do género, executado pelo Ludovice Ensemble, grupo português de música antiga que centra a sua actividade na pesquisa e execução de peças de câmara da época barroca, e do barítono baixo Hugo Oliveira.
Título: Amour, viens animer ma voix!
Intérpretes: Ludovice Ensemble e Hugo Oliveira
Edição: Ramée