Música
31 dezembro 2022

Discos

Tempo de leitura: 3 min
As nossas sugestões musicais deste mês vão para os discos «Magnificat» e «O Maria Virgo». Dois discos belíssimos para escutar muitas vezes.
António Marujo
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Num disco todo ele distinto, peças como o Magnificat, o Ave Maria, a Missa Salve regina e o Stabat Mater destacam-se na sua força melódica e musical. Como recorda Luís Toscano na apresentação do disco, Pedro de Cristo (monge de Santa Cruz de Coimbra) foi um dos nomes da “idade de ouro” da música portuguesa, a par de Duarte Lobo, Manuel Cardoso e Filipe de Magalhães (dos quais os Cupertinos já tinham gravado outros discos, aqui também referidos). Ao contrário dos contemporâneos, Pedro de Cristo (c. 1550-16 de Dezembro de 1618) não conseguiu publicar nenhuma das «mais de duas centenas de obras» que lhe são atribuídas. O músico, recorda ainda Toscano, era multifacetado e tocava vários instrumentos, foi mestre-de-capela do mosteiro de Santa Cruz e exerceu o mesmo cargo em São Vicente de Fora, em Lisboa. A temática mariana, que abunda na obra do monge e músico dos séculos XVI-XVII, tem aqui uma escolha de primeira água, servida por uma excelente execução, entre os tons de júbilo, afirmação e ritmo ligados às peças do Natal ou de veneração de Maria (como no Regina Caeli), bem como o lamento e contemplação do mistério da morte nas peças relativas à Paixão. Para escutar muitas vezes.

Disco1

Título: Magnificat

Autores: Pedro de Cristo

Intérpretes: Cupertinos; dir. Luís Toscano

https://www.cupertinos.pt/pt/

 

 Disco2

Este disco tem alguns anos, mas vale a pena revisitá-lo, até pelo trabalho que o grupo vocal Kantika tem vindo a fazer em Portugal, incluindo o concerto, em Outubro, no Mosteiro da Batalha, dedicado a manuscritos do convento dominicano de Aveiro – que o ensemble pretende registar em disco. O grupo consagrou-se à música medieval e a liturgias esquecidas, de que este O Maria Virgo é um exemplo, já que reconstrói uma missa a duas vozes cantada pelas cisterciences da abadia Santa Maria la Real de las Huelgas (Burgos, Espanha), nos séculos XIII e XIV. O disco inclui ainda peças do manuscrito El Escorial, que recolhe cantos marianos da corte de Afonso X, o Sábio, como explica a directora artística Kristin Hoefener. Las Huelgas, que designa um lugar de repouso ou de pastagens para o gado, foi fundado em 1187, tornando-se um dos mais importantes mosteiros da Ibéria: a sua abadessa nomeava os padres de um vasto território e autorizava-os a pregar, confessar ou celebrar. O poder das vozes femininas e a relação entre a relevância da Virgem e a importância das mulheres atravessam o disco, mostrando a pluralidade de «estilos musicais desta época charneira entre a ars antiqua e a ars nova». Entre vários, Rosa das Rosas ou Stabat Iuxta Christi Crucem são intensos: «Ó Virgem Maria das flores, afugenta a neve fria com o orvalho.» Belíssimo.

Título: O Maria Virgo

Autor: Vários

Intérpretes: Kantika; dir. Kristin Hoefener

Edição: adm@kantika.com ou kh@kantika.com

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Discos
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EDIÇÃO
Novembro 2024 - nº 751
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