Por causa de um ensaio do Requiem de Mozart, a que assistiu inesperadamente, Jordi Savall decidiu que a música seria a luz que daria sentido à sua vida e lhe alimentaria a alma. Foi em Outubro de 1955, tinha o agora maestro e compositor 14 anos. Uma «sensação única» que o leva a citar Mark Twain: «Os dois dias mais importantes da tua vida são o dia em que nasces e o dia em que descobres porquê.» Muitos anos depois, em 1991, Savall gravou o Requiem, obra essa reeditada há 13 anos já na sua editora Alia Vox. Agora, Savall decidiu fazer um novo registo da obra-prima de Mozart. Será possível descobrir nela novas emoções, a lux æterna que brilhou para Savall nessa noite longínqua de 1955? Com esta nova gravação, de Maio do ano passado, parece que o Requiem se solta do formalismo em que tantas vezes é envolvido e volta a «tocar a alma de uma pessoa de forma tão poderosa», como também escreve o maestro catalão. Na reedição feita em 2010, Savall dizia que o Requiem deveria fazer «reviver todo o caloroso fervor da fé católica e a esperança da misericórdia divina», ser um «emotivo lamento fúnebre e instante de graça», e revelar o mistério da vida e da morte como «chave da autêntica felicidade». São todas essas emoções que esta nova interpretação nos permite, juntando à obra-prima musical os instrumentos límpidos e as vozes possantes ou meditativas que a tornam também uma obra-prima da interpretação. A não perder.
Título: Mozart – Requiem
Intérpretes: La Capella Reial de Catalunya, Le Concert des Nations, R. Redmond, M. B. Kielland, M. Lei, M. Walser; dir. Jordi Savall
Edição: AliaVox, 2023 | Disponível nas lojas e plataformas digitais
No poema Vagabond, o inglês John Masefield escrevia: «Não sei muito sobre o quê e porquê,/Não posso dizer que alguma vez tenha sabido./ O céu para mim é um belo pedaço de céu azul,/ A Terra é apenas uma estrada poeirenta.// Não sei os nomes das coisas, nem o que são,/ Não posso dizer que alguma vez o farei./ Não sei nada sobre Deus – Ele é apenas a estrela que acena/ No cimo da colina ventosa.» Com esta inspiração, Dominic Miller compôs um conjunto de subtis buscas de sentido, em que a guitarra, o piano, o baixo e as percussões se combinam para valorizar o inesperado que a itinerância pode conter: “Embora não me veja como um vagabundo, identifico-me com as pessoas que viajam, preferindo este estilo de vida a ficar num lugar”, diz Dominic, músico nascido na Argentina, de pai americano e mãe irlandesa, e criado nos Estados Unidos desde os 10 anos. O músico trabalhou já com Paul Simon, The Chieftains, Plácido Domingo e sobretudo Sting, cuja influência reconhece no sentido de harmonia e na forma de contar uma história pelas canções. Heranças que aqui encontramos, num belo e tranquilo disco, para amenizar as noites de Verão.
Título: Vagabond
Autor e intérpretes: Dominic Miller, Jacob Karlzon, Nicolas Fiszman, Ziv Ravitz
Edição: ECM, 2023 | Disponível nas lojas e plataformas digitais