Vivemos nos últimos meses algo único do ponto de vista eclesial e que marcou a agenda mediática e a vida da sociedade portuguesa, que foi a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa. Não me vou deter em polémicas como o tamanho e as medidas dos altares; o selo comemorativo; as contas e retorno financeiro; e, muito menos, nos jovens que não regressaram aos seus países.
Pode parecer que tudo já foi dito, mas a grandeza do evento, as alocuções e homilias proferidas pelo Papa Francisco têm, agora, de ser «digeridas». É preciso tratar das sementes que foram lançadas à terra, para que não aconteça que a dureza dos nossos corações, as aves, a aridez e falta de húmus, ou os espinhos, abafem a beleza e a profundidade do que foi visto e vivido por mais de um milhão e meio de peregrinos in loco e por muitos mais milhões de pessoas no mundo inteiro, através dos meios de comunicação social.
Acompanhei toda a mobilização e preparação antes dos dias nas dioceses (Pré-Jornadas) e da Jornada Mundial em Lisboa. Tive a oportunidade de mês após mês estar com os símbolos da JMJ, a cruz e o ícone em várias dioceses (Aveiro, Braga, Coimbra, Lamego, Leiria-Fátima, Porto, Viana do Castelo e Vila Real). Vi como o povo de Deus, dos mais novos aos mais velhos rezava, acolhia e celebrava a peregrinação destes sinais sagrados. Era um misto de fé e de esperança para que tudo corresse bem e os jovens acolhessem o convite do Santo Padre para estarem em Lisboa.
Nos dias nas dioceses, a minha comunidade acolheu um grupo de peregrinos italianos. Do pouco se fez tanto, pois há mais alegria em dar do que em receber. As nossas famílias e comunidade nunca mais foram as mesmas. Depois a missa de encerramento, na diocese do Porto, com dezenas de milhares de jovens no Parque da Cidade, com o oceano ao fundo. Foi belo, bastante comovedor ver a comunhão, a alegria e a profundidade de cada gesto e momento.
Vou reler cada parágrafo do que o Papa Francisco disse e nos deixou escrito. Vou guardar na mente e no coração a beleza do coro da JMJ, dos cantores e da beleza cénica da Via-Sacra. Como não referir a força do silêncio adorador, diante de Jesus eucarístico, na vigília, e a alvorada com a música tecno do DJ Padre Guilherme. Temos em Portugal uma Igreja viva e jovem, cheia de dons e talentos que não podem ser escondidos.
O Papa Francisco desafiou-nos a sermos surfistas das ondas do amor, a não nos determos no tamanho ou na força das ondas, mas a surfá-las, a cavalgá-las com beleza e coragem. Há que pegar na prancha, aprimorar a técnica e fazermo-nos aos oceanos da vida.
Tratemos das sementes que neste evento foram semeadas! Ouçamos a voz dos jovens, na Igreja e na sociedade! Tenhamos a coragem do Papa Francisco para incluir todas as pessoas que se aproximarem da Igreja, pois há lugar para todos!
A JMJ foi uma oportunidade para a Igreja marcar a agenda mediática, dar-se a conhecer, partilhar a sua mensagem e o seu pensamento. Levemos para as nossas comunidades este dinamismo, a beleza de fazer as coisas, ou, pelo menos, não o deixemos esmorecer ou impeçamos de florescer.