Igreja
15 janeiro 2025

O Evangelho em nomatsigenga

Tempo de leitura: 4 min
O padre David Nyinga, missionário comboniano originário da República Democrática do Congo, partilha a sua vida e fé com o povo Nomatsigenga, na selva central do Peru. Partilha o processo de inculturação que se está a fazer e a alegria de celebrar a fé no próprio idioma.
Redacção
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No dia em que presidi pela primeira vez a uma missa em nomatsigenga, a língua indígena da selva amazónica peruana, Ruby, a directora do albergue da Universidade de Nopoki onde eu estudava, gritou-me com emoção e admiração: «Padre, muito obrigado! Que sejas sempre abençoado. Agradeço-te pela missa. Ver os olhos das crianças quando lhes falas na sua própria língua encoraja e fortalece, e ainda mais quando falas de Deus.»

No meu país, a República Democrática do Congo, temos o nosso próprio rito litúrgico, a Palavra de Deus é traduzida para as diferentes línguas locais e a missa é celebrada nessas línguas. Para mim, isso era normal, tal como era normal que as celebrações fossem acompanhadas de danças. Foi preciso vir ao Peru para me dar conta de que, por detrás de tudo isto, havia um grande esforço de inculturação. Na Universidade Católica Sedes Sapientiae, em Nopoki, comecei a despertar, a maravilhar-me e a dar-me conta do difícil processo de inculturação da fé numa cultura concreta.

Esta universidade situa-se na província peruana de Atalaya, no departamento de Ucayali. Os meus superiores pediram-me que frequentasse este establecimento de ensino superior para aprender o nomatsigenga, a língua da família aruaque, falada pelos indígenas das comunidades que acompanho e que pertencem ao território da paróquia de Pangoa, que os Missionários Combonianos servem. Foi ali que conheci a vida e a cultura de sete povos que, além do espanhol, têm a sua própria língua. Perto da residência, tínhamos uma pequena capela de madeira onde as pessoas rezam e cantam a Deus em várias línguas, incluindo o nomatsigenga. 

 

Processo de inculturação

São cerca de cinco minutos a pé da residência até à capela. De manhã, quando fizemos esta pequena caminhada, passámos por estudantes provenientes de diferentes aldeias. Embora todos se cumprimentassem e respondessem na sua própria língua, entendíamo-nos bem. Na capela, todas as semanas rezávamos e cantávamos a Deus numa língua diferente. Senti-me como se estivesse no Pentecostes!

Isso encorajou-me. Senti nascer em mim uma ideia clara e inspiradora. Perguntei a mim próprio o que aconteceria se aprendesse o livro de cânticos em nomatsigenga. E, pouco a pouco, as perguntas sucederam-se. E se eu me esforçasse por aprender mais e melhor a língua e as orações da nossa fé cristã na língua deles?
E se eu pedisse ao bispo do Vicariato Apostólico de San Ramón, D. Gerardo Zardin, para traduzir a missa em nomatsigenga? 

Dito e feito. Começámos o processo, um caminho de inculturação que continua. Tal como no meu país, podemos bem dizer que Jesus se tornou também um nativo da cultura indígena nomatsigenga. Jesus é agora um nativo da selva central do Peru.

Agora, quando visito as pequenas comunidades da selva, professamos a nossa fé e rezamos o pai-nosso e a ave-maria em nomatsigenga. Adoramos, louvamos e abençoamos o pão e o vinho na língua deles e compreendo melhor a alegria de Ruby naquele dia na universidade em Nopoki.

Penso que as sementes do Verbo, que foram semeadas nestas comunidades desde as origens, como em todas as culturas, estão a germinar lentamente neste povo. Sinto-me muito feliz por ser parte integrante deste processo de inculturação. Nós, comunidade comboniana, estamos envolvidos numa pastoral missionária que procura encarnar-se para acompanhar e caminhar com as comunidades nativas nomatsigengas, respondendo com alegria e  coragem ao mandato de Jesus, que nos envia a testemunlá-Lo em todo o mundo, e sendo fiéis ao carisma e à espiritualidade de São Daniel Comboni. 

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EDIÇÃO
Janeiro 2025 - nº 753
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