Igreja
25 fevereiro 2025

Acompanhar os jovens

Tempo de leitura: 6 min
Na Guatemala, o padre José Pérez realiza o seu serviço missionário com os jovens, ajudando-os a conhecer a vida missionária e a discernir a vocação específica a que Deus os chama.
Redacção
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Quando cheguei à Guatemala, em Novembro de 2022, fui destinado à Casa Comboni, uma comunidade de animação missionária e promoção vocacional, lugar onde funciona também um centro que organiza cursos de formação em temas actuais para os responsáveis paroquiais. Estou envolvido um pouco em todo esse trabalho, mas foi-me pedido especialmente para concentrar o meu serviço na animação vocacional e, desde então, tenho acompanhado jovens guatemaltecos com inquietudes missionárias. É sempre bom trabalhar no mundo da juventude, mesmo que isso exija muita paciência, porque nem sempre se vêem os resultados imediatamente. Ao estar com eles, por vezes sinto que não sei onde é que eles vão chegar, mas também sei que a minha presença próxima pode ajudá-los muito e isso dá-me ânimo.

Uma parte importante do meu trabalho consiste em visitar paróquias, grupos de jovens e escolas, mas também em participar nas exposições vocacionais, que são encontros eclesiais onde os jovens podem conhecer as muitas vocações específicas oferecidas pela Igreja para viver um compromisso cristão, incluindo a vida religiosa e missionária. Normalmente vamos com religiosos e religiosas de diversas congregações para nos apresentarmos e eu, como comboniano, falo sempre do carisma missionário ad gentes, ou seja, além-fronteiras. As exposições vocacionais são umas óptimas oportunidades para encontrar os jovens e convidá-los a vir aos retiros que organizamos todos os primeiros fins-de-semana de cada mês.

Encontro e falo com muitos jovens durante as minhas visitas, mas a realidade é que muito poucos respondem positivamente ao convite para participar nos retiros, e ainda menos são encorajados a entrar num processo de acompanhamento e discernimento vocacional mais personalizado. Durante estes dois anos, pude compreender que os guatemaltecos, e quiçá os latino-americanos em geral, estão muito enraizados na família e na terra, por isso, quando dizemos aos jovens que o nosso carisma exige que saiam do seu país durante longos períodos da sua vida, que aprendam outras línguas, que vivam em culturas diferentes e que o façam com uma mente aberta, eles afastam-se gradualmente. Não importa, ainda que sejam poucos os candidatos para o estilo de vida missionária que lhes proponho, todos os que participam nos retiros recebem uma formação humana e cristã que, estou certo, os ajudará na sua vida.

Durante o ano temos dois ou três campos de missão com os jovens. Têm lugar no Natal e na Páscoa, mas também durante a Quaresma, que são tempos litúrgicos que na Guatemala são vividos de uma forma muito intensa. Normalmente, vamos à nossa paróquia de San Luis de Petén, no Norte do país, e convidamos os jovens a integrarem-se nas comunidades cristãs. Eles não só participam nas cerimónias religiosas, como também visitam os doentes e organizam encontros com os jovens locais. Ao conhecerem a comunidade comboniana que vive na paróquia, comprovam que nós, Combonianos, somos de diferentes nacionalidades e que trabalhamos num estilo marcadamente missionário.

Como promotor vocacional, dou grande importância à capacidade de escuta e à empatia, que são atitudes humanas que nos permitem pormo-nos no lugar do outro e perceber o que ele está a passar. Cada jovem é diferente e temos de ser muito pacientes, dar-lhes tempo e não tirar conclusões demasiado depressa. 

 

Optar pela missão

Se tudo correr bem, este ano, três jovens guatemaltecos que acompanho poderão entrar no postulantado comboniano na Costa Rica: José, Julio e Nelson. Cada um é diferente, mas todos fizeram um belo caminho. 

José vem de uma família muito simples. Deixou a escola para dar uma ajuda no negócio da família, uma pequena loja de fruta e produtos perecíveis. Um dia, disse-me: «Quero ser como tu», e eu fiquei surpreendido. Quando lhe perguntei o que queria dizer, respondeu-me que queria muito ajudar as pessoas e falar-lhes da Palavra de Deus, mas sabia que não tinha a preparação necessária e que a sua família não tinha recursos para o ajudar nos estudos. Iniciámos um processo juntos, falei com a sua família e, no final, ele conseguiu conciliar o trabalho com os estudos. Agora está prestes a obter o diploma de acesso à universidade.

Embora Júlio e Nelson sejam de cidades diferentes, é curioso que ambos estejam a estudar para se tornarem contabilistas. Julio vive em Retalhuléu e Nelson em Alotenango, dois departamentos distantes da capital, o que não os impede de participar nos convívios. Júlio tem facilidade em interagir com os outros, é irrequieto e bastante religioso. Nelson é muito brincalhão, jovial e sabe ver o lado positivo de tudo, o que não é uma qualidade menor. Visito regularmente as suas famílias e passo dias com eles para os conhecer e para que eles me conheçam. Que eles possam ir em frente com fé e esperança, superando todas as dificuldades e tornando-se bons combonianos. 

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Março 2025 - nº 755
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