Igreja
16 abril 2025

O desafio da missão no Sri Lanka

Tempo de leitura: 6 min
A irmã Patricia Lemus, missionária comboniana, encontra-se há mais de cinco anos no Sri Lanka e há pouco mais de um ano na cidade de Hatton. Ela partilha os desafios desta missão no continente asiático.
Redacção
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Nasci na Guatemala numa família cristã de doze filhos. Senti-me chamada à missão e ingressei no instituto das Missionárias Combonianas. A minha primeira destinação foi ao Quénia, onde estive a caminhar com o povo Pokot, dedicando-me, sobretudo, a acompanhar as meninas pobres que estudavam e viviam no internato da missão. Este povo, simples e alegre, conquistou o meu coração. Anos depois, fui realizar um tempo de formação na Itália e pensava regressar ao Quénia. No entanto, os caminhos de Deus são insondáveis e as minhas superioras enviaram-me ao Sri Lanka. Foi um presente muito grande e a realização de um sonho, pois sempre tinha desejado ser missionária na Ásia.

 

Missão nova e desafiante

Hatton, uma cidade relativamente pequena, a 1270 metros de altitude, foi fundada durante a era colonial britânica para produzir café e chá. O seu nome deriva da cidade de Hatton, uma cidade em Aberdeenshire (Escócia). Todas as plantações de chá têm o nome de aldeias escocesas. 

A vida aqui é diferente do meu país natal, a Guatemala. No Sri Lanka, quatro religiões vivem lado a lado: Hinduísmo, Budismo, Cristianismo e Islamismo. Por isso, este contexto intercultural e inter-religioso, onde há respeito entre as diferentes fés, marca-nos. A primeira oração do dia é a oração muçulmana, por volta das 4h30 da manhã. É a oração que me acorda todos os dias. É um momento muito especial poder sentir-me em comunhão com os muçulmanos que rezam a essa hora. Alguns minutos mais tarde, por volta das 5h00, começa a meditação budista com mantras que eles repetem e que também me faz conectar com eles. Ajuda-me a pensar em tantas pessoas que procuram a transcendência. Sabemos que o Budismo não é uma religião, mas as pessoas budistas tentam transcender-se para algo mais. Mais tarde, segue-se a oração dos hindus. Começam os hinos, os rituais que têm para todos os deuses. E, finalmente, ouvimos o sino da igreja que nos chama a participar na Eucaristia todos os dias. Esse é o início de qualquer dia que continua a partilhar a vida. 

Esse diálogo da vida em que tudo está ligado à transcendência, ao divino.

Antes de saírem de casa, também fazem as suas orações. Em cada casa, em cada família, há um altar onde rezam com gestos, com orações. E tal como o dia começa com uma oração, também o dia termina com uma oração. Isto faz parte da vida, da cultura. Toda a vida das pessoas gira em torno da religião, da convivência, da celebração. Há momentos muito especiais para partilhar, para crescer como comunidade. 

Toda esta partilha de vida e de oração é muito importante para mim. Faz-me sentir em comunhão, ligar-me aos quatro grupos diferentes, com as suas culturas e religiões, que procuram compreender a vida como algo importante. A vida não é apenas trabalho, estudo, prazer, mas algo mais, algo sagrado que nos transborda.

 

Compromisso pelo diálogo 

e a fraternidade

Nós, Irmãs Combonianas, temos duas missões no Sri Lanka, uma em Talawakelle e outra em Hatton, onde me encontro actualmente. Chegámos a Hatton a 4 de Fevereiro de 2024 para um serviço na educação, na pastoral social e no diálogo inter-religioso. Somos duas irmãs que, juntamente com as quatro irmãs de Talawakelle, formamos uma única comunidade.
A nossa presença multicultural, com irmãs de quatro continentes que trabalham juntas é, seguramente, por si mesma, uma semente de fraternidade. 

A nossa comunidade fica mesmo em frente a um templo hindu e temos uma vista privilegiada. Os campos de chá parecem jardins bem cuidados. Mas por detrás desta beleza há muito sacrifício e injustiça. As mulheres são as que mais trabalham neste tipo de cultivos. De manhã muito cedo, vão trabalhar para os campos e trabalham oito horas por um salário miserável. À tarde, vemo-las regressar ao sol ou à chuva, carregando pesadas cargas. Vivem numa situação muito precária.

Hatton é uma pequena cidade na qual existem quatro grandes estabelecimentos de ensino. Muitos estudantes vêm das cidades vizinhas para estudar em Hatton. Eu trabalho numa dessas escolas e, quando lá vamos, vemos uma maré branca a deslocar-se. Chamo-lhe «rio branco», pois os alunos que vão para as aulas formam essa grande mancha que se move. No instituto onde trabalho, a maior parte dos alunos são hindus; posso dizer que todos buscamos a Deus de diferentes formas.

Há ainda uma característica cultural especial no Sri Lanka: a cultura do chá. Um dia na missão não pode passar sem chá. O chá faz parte da vida, por isso, onde quer que se vá, é-nos sempre oferecida uma chávena de chá.

Agradeço a Deus pela vocação missionária e pelas pessoas que encontramos no dia-a-dia, que nos acolhem com alegria, generosidade e amizade e nas quais o Senhor se manifesta. 

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EDIÇÃO
Abril 2025 - nº 756
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