LIVROS
Título: «Choupanas e Palácios»
Autor: Porfírio Pinto
Editor: Paulinas | www.paulinas.pt | Tel. 219 405 640
Vieira – profeta esquecido
Quando se ouve falar do Padre António Vieira, surge quase de imediato a referência aos seus sermões e ao seu trabalho de evangelização dos povos indígenas do Brasil. No entanto, a «ignorância que continua a pairar sobre o seu pensamento teológico» foi causa de «estupefacção» para Porfírio Pinto e o mote para este Choupanas e Palácios.
O autor organizou a obra em três partes. Uma primeira dedicada à estrutura «base do edifício teológico de Vieira», «o caldo pedagógico e espiritual em que cresceu» – a espiritualidade jesuíta, sem a qual não se compreenderia o resto da sua acção. A segunda parte está dedicada ao material que, recorrendo a uma metáfora utilizada pelo próprio Vieira, foi denominado de «choupanas» – as obras de circunstância, como os seus famosos sermões, a sua correspondência, os seus papéis sociopolíticos. A terceira corresponde à obra profética, que ele engloba na metáfora de «palácios altíssimos» – obras que têm outra arquitectura e estrutura, sendo «obras de grande fôlego, que exigiram investigação, reelaborações sucessivas». São estas a «novidades» que Porfírio Pinto analisa, salientando a sua importância maior pelo seu carácter profético.
No meio da leitura, ressalta da figura do Padre António Vieira uma característica genericamente comum a jesuítas: a capacidade de adaptar o discurso, na sua forma e complexidade, à circunstância, tornando entendível o complexo, trazendo para o lado pragmático da vida o profundo das ligações teológicas.
Na realidade, de que vale dizer as maiores evidências de tal forma que quem não estudou o mesmo que quem as profere não vá, por isso, entendê-las? Isto mesmo reconhece Porfírio Pinto ao referir que, «nas várias expressões circunstanciais dos escritos de Vieira (sermões, cartas e papéis vários), essa teologia retórica procura sobretudo o decoro (aptum), isto é, a adequação ou congruência entre a situação comunicativa [...] e os fins que persegue o discurso. [...] o pregador procura que os conceitos engenhosos estejam ao serviço da Palavra divina».
Este Choupanas e Palácios está bem polvilhado com citações de autores, de teólogos, de termos em latim, de referências a escolas de pensamento, de notas de rodapé... e a linguagem é a de uma investigação académica não necessariamente fluida ou não fosse este livro o resultado do doutoramento do seu autor.
Filipe Messeder
Título: «Palavras que o Português Deu ao Mundo»
Autor: Marco Neves
Editora: Guerra & Paz
www.guerraepaz.pt | Tel. 213 144 488
Viagem por 80 línguas à procura de palavras que Portugal deu ao mundo. Para lá dos seus falantes, muitos povos usam palavras de origem portuguesa sem o saberem. As palavras das outras línguas que são palavras do português, influências e curiosidades pelo professor do Departamento de Línguas, Culturas e Literaturas Modernas da Nova FCSH.
Título: «A Casa da Alegria»
Autor: Gabriel Magalhães
Editora: Paulinas
www.paulinas.pt | Tel. 219 405 640
Reflexões sobre cristianismo e tempo na cultura europeia. O amor, a liberdade, a oração, o milagre e a acção social, além do papel da mulher na Igreja e o diálogo entre tradição e modernidade. O papel da espiritualidade no futuro da Europa pelo professor do Departamento de Letras da Universidade da Beira Interior.
DISCOS
Título: Ibn Battuta
Intérpretes: Hespèrion XXI e outros; dir. Jordi Savall
A ideia de viagem é uma das ideias fortes presentes no trabalho de Jordi Savall desde há muito. Basta pensar nos discos que celebram vidas ou percursos como os de Francisco Xavier, Joana d’Arc, Erasmo de Roterdão ou Ramon Llull; cidades como Jerusalém e Istambul; regiões como os Balcãs, Arménia e o Mediterrâneo; ou histórias como a dos cátaros, da dinastia Bórgia ou das rotas da escravatura. Através desses caminhos contados em música, percebemos a riqueza cultura e musical, religiosa e política que atravessou tantos acontecimentos da história colectiva da humanidade (sobretudo da Europa e do Próximo Oriente), naquilo que têm de belo, de sublime e por vezes também de mesquinho, violento ou trágico. Neste novo livro-disco, acompanham-se as viagens de Abu Abdallah Ibn Battuta, muçulmano nascido em Tânger em 1304 que, em 1325, foi fazer a Hajj (peregrinação a Meca). Só a indicação dos lugares por onde andou são já um índice da extraordinária riqueza musical que se pode escutar: África do Norte, Egipto, Palestina, Síria, Meca, Pérsia, Iraque, de novo Meca. Depois, África Ocidental, de novo Meca e golfo Pérsico. Em 1330, retoma de novo o caminho, dirigindo-se desta vez para a Índia, onde fica oito anos ao serviço do sultão de Deli, Muhammad Tughluq, ao serviço de quem coordena uma expedição que parte para a corte do imperador mongol da China e regressando por Bengala, Birmânia, Samatra, Cantão... De novo Meca, para a última Hajj, regresso a Marrocos, visita a Granada e, finalmente, uma viagem ao Mali e Sudão. Regressa definitivamente em 1355 a Marrocos. Um grande fresco literário, histórico, geográfico e musical, diz Jordi Savall. E uma grande viagem que podemos imaginar, através desta música que atravessa vidas e tempos.
António Marujo
Título: Beyond the Borders
Autores e intérpretes: Maria Farantouri, Cihan Türkoğlu e outros
Edição: ECM | discos@dargil.pt
Para lá das fronteiras. O título deste disco coincide com o seu programa e com a forma musical e artística de o concretizar. A origem dos músicos já diz muito: a grega Maria Farantouri junta-se ao turco Cihan Türkoglu, que residiu em Atenas durante dez anos; e ainda à violoncelista alemã Anja Lechner, Meri Vardanyan (de origem arménia, nascida em França), o grego Christos Barbas, e o percussionista turco Izzet Kızıl, que cresceu no Leste da Turquia num ambiente dominado pelos ritmos sufis. No programa do disco, outra indicação: ouvem-se aqui peças com origem na Grécia, Turquia, Líbano e Arménia. Farantouri, conhecida como a Maria Callas do povo e que já trabalhou com Mikis Theodorakis ou Charles Lloyd, entre outros, traz assim para este disco mais uma evidência de que a música é uma das formas de quebrar barreiras e, sobretudo, unir culturas. O que se ouve são doces misturas entre o antigo e o novo (por exemplo, em Yo era ninya, “eu era uma menina”, canção sefardita dos judeus ibéricos de Esmirna; ou em Wa Habibi (“Meu Amado”, um famoso hino cristão originário do Líbano e da Síria), cantadas com uma intensidade rara que confere à beleza original da música um tom ainda mais forte. Ou ainda um extraordinário arranjo de uma canção tradicional arménia registada pelo padre Komitas Vardapet, talvez o compositor mais importante do país. Um disco com um extraordinário trajecto que, para lá das fronteiras, traça um percurso belíssimo.
António Marujo