LIVROS
O editor apresenta os autores como dois jovens. Um já com mestrado, outro a caminho, mas «jovens e que sentem e pensam como tal». Poder-se-ia daqui esperar reflexões mais embebidas de um romantismo deslumbrado, próprio do idealismo aceso de idades menos experimentadas; encontra-se, no entanto, um sentido maturado, um olhar crescido para a vida.
Escrito na primeira pessoa, ora do singular, ora do plural, onde o leitor se sente e revê no “nós” utilizado, fazem uso de uma linguagem perfeitamente normal, remetendo-nos inúmeras vezes para a realidade do dia-a-dia. Esta é uma preocupação latente: a falta de sentido em que facilmente podem cair as rotinas da vida actual.
É feito por isso nestas páginas o convite a, com regularidade, fazer uma pausa desse ritmo preenchido e olhar para dentro e para cima. É que, apontando o dedo à realidade diária e propondo alternativas, esta leitura pisca o olho a «quem gosta da aventura do mundo interior», pois, como afirmam os autores, «estar parado também pode ser fazer caminho.»
Do «porquê a mim?» ao «porque não a mim?», do «caímos inúmeras vezes» a «vale a pena cair…» é, como afirmam os autores, «uma questão de perspectiva». Além de um outro olhar sobre a realidade, incentivam também a sair do estado “deixa andar” e a «viver, já!»: «não te atrases a viver», dizem. Outros temas passam pela importância do silêncio, pelo significado de se assumir cristão, pela vontade de mudança e o medo que lhe está associado, sempre retirando à vida diária um hipotético carácter fatalista e redutor.
Esta leitura não será remédio santo portador de epifanias para o dia-a-dia. Ainda assim, ninguém a terá alguma vez se não se predispuser a pensar no que anda a fazer ao longo de repetitivas rotinas, sem questionar o significado da sua existência, sem conciliar um propósito maior com a sua vida diária, quiçá aparentemente desprovida dessa missão de sentido profundo.
Este livro e estas reflexões têm o condão de levantar inquietações, pontos por resolver na vida pessoal. Desta forma, tenta retirar o leitor do estado de dormência e anestesia para o qual o ritmo de vida actual facilmente transporta. Este livro puxa sempre o leitor para a procura de sentido e para o preenchimento interior da sua existência.
Com o Coração nas Mãos apresenta 52 reflexões leves que não obrigam a parar tudo para poder analisar e ruminar conceitos complexos, exigindo ainda longas meditações... não! O objectivo é permitir que, de uma forma simples e rápida, investindo não mais de cinco minutos de leitura de cada vez, se leve um mote para reflectir durante a semana, se deixem fermentar ideias e, desta forma, seja o leitor empurrado para o seu interior, em busca do sentido do seu exterior.
(Filipe Messeder)
Título: «Com o coração nas mãos»
Autor: Marta Arrais e Emanuel António Dias
Editor: Paulus
www.paulus.pt | Tel. 218 437 620
O que se pensa actualmente sobre a Inteligência artificial e a condição humana, como crescer e prosperar através da automação e a corrida às armas letais autónomas. A superinteligência e o sentido e consciência da vida pelo norte-americano professor do instituto MIT, presidente do Future for Life Institute e director científico do instituto FQXi.
Título: «Life 3.0»
Autor: Max Tegmark
Editora: LeYa / D. Quixote
www.dquixote.pt | Tel. 214 272 200
Conjunto de poesias escritas em Portugal, entre os anos 1981 e 1989, e em Itália, em 1983. A intimidade com Jesus em poesia autobiográfica, de versos simples e livres, pelo sacerdote da Província Portuguesa da Ordem Franciscana – Ordem dos Frades Menores.
Título: «Intimidade com Jesus»
Autor: Frei Mariano
Editora: Chiado Books
www.chiadobooks.com | Tel. 213 460 100
DISCOS
Título: Juan Sebastian Elkano
Intérpretes: Euskal Barrokensemble; Donstiako Orfeoi Gaztea eta Txikia; Enrike Solinís
O único senão desta obra está em algumas afirmações dos textos: para realçar os feitos de Juan Sebastián Elcano, o basco que concluiu a viagem de circum-navegação proposta e iniciada por Fernão de Magalhães (e de cuja partida se assinalaram em Setembro os 500 anos), menospreza-se o papel do comandante português financiado pela Coroa de Castela. Elcano é oriundo de uma cultura náutica destacada e foi ele que conseguiu a proeza de completar o projecto de Magalhães e a primeira volta ao mundo, devolvendo a única nau sobrevivente da expedição a Sanlúcar de Barrameda, de onde tinham partido três anos antes. Isto depois de ter passado quatro meses e meio, entre Timor e Cabo Verde, sem tocar terra, para não ser aprisionado pelos navios portugueses. De resto, a obra do Euskal Barrokensemble, dirigido por Enrike Solinís (que já nos oferecera Euskel Antiqua e El Amor Brujo, duas obras belíssimas aqui recenseadas) é um extraordinário fresco de celebração da música basca e de algumas expressões musicais que, por razões religiosas, políticas, marítimas, etc., se cruzaram com o País Basco. Ao mesmo tempo, a organização do programa segue de alguma forma a viagem de circum-navegação: o país marítimo, as confluências culturais (cristãos, muçulmanos, judeus, ciganos), a organização da expedição, Inácio de Loiola e Francisco Xavier (outros dois bascos notáveis da época), a chegada às Molucas, as canções marítimas de despedida, de amor, de encomendação religiosa ou de ida e volta... Uma obra notável, a que não falta o trabalho iconográfico e fotográfico de grande qualidade a que já nos habituou a Alia Vox, editora de Jordi Savall.
(António Marujo)
Título: Remember me, my dear
Intérpretes: Jan Garbarek, The Hilliard Ensemble
Edição: ECM New Series
Este disco é o registo ao vivo da última digressão dos The Hilliard Ensemble, gravado, no caso, em Outubro de 2014 na igreja da Colegiada dos santos Pedro e Estêvão em Bellinzona, no cantão suíço de Ticino. Ou seja, é a última obra de arte saída desta simbiose perfeita entre as quatro vozes do ensemble britânico e o saxofone soprano de Jan Garbareck, que surge como um quinto elemento, que dialoga ou faz um contraponto permanente com os Hilliard. Como escreve Peter Rüedi, Garbareck “vagueia e flutua pelos espaços criados pelos cantores” e, no resultado final, “a música antiga não recebe apenas um brilho moderno”, mas permite explorar espaços interiores. O disco é, além disso, uma síntese das anteriores obras feitas em conjunto. Ao escutá-lo, temos de facto a sensação de escutar o diamante daquilo que esta colaboração extraordinária permitiu. O saxofone de Garbareck só sublinha, com as suas intervenções, a beleza eterna da liturgia que esta música transporta, venha ela dos séculos xii (Hildegarda de Bingen), xiii ( Pérotin), xix ou xx (Komitas ou Nokolai Kedrov) ou do xxi (Garbareck ou Arvo Pärt). Escuta obrigatória.
(António Marujo)