Os Asmats da Papua-Nova Guiné, na Oceânia, acreditam que são descendentes do deus a quem chamaram Fumeripitsy («criador»). Na sua mitologia, crêem que, um dia, esta divindade desceu do mundo invisível que está atrás do horizonte, para lá do mar, onde o Sol se põe todos os dias. E pisou a terra numa montanha. Depois, caminhou e viveu muitas aventuras. Quando passava junto ao mar, Fumeripitsy foi atacado por um crocodilo gigante e ficou gravemente ferido. Por sorte, um flamingo cuidou dele até que se recuperou. Depois disto, com madeira, o deus construiu uma casa, esculpiu duas estátuas muito bonitas e fez um tambor pujante. Quando terminou os trabalhos, Fumeripitsy começou a dançar, e o poder mágico que saiu dos seus movimentos deu vida às duas estátuas. Estas foram o primeiro casal humano, os ancestrais dos Asmats, e começaram a mexer-se e a dançar com o seu criador.
Artesanato sagrado
O respeito dos Asmats pelas suas raízes mitológicas expressa-se na escultura. É mais do que uma profissão ou um hábito hereditário, faz parte da sua natureza, é uma espécie de tradição sagrada. Todos os membros desta etnia nascem com predisposição para moldar a madeira e criar esculturas.
A obra de arte mais importante para cada asmat é um escudo. Quando nasce uma criança, é-lhe construída uma destas armas e dão-lhe o nome de um antepassado, porque encaram as esculturas em madeira como uma forma de ligar a vida do novo indivíduo à vida dos seus ancestrais. Os Asmats também acreditam que o espírito dos antepassados, por meio do escudo, torna o seu dono invencível quando o segura. Neste ritual, por um lado, honra-se a transmissão da vida e dos valores tradicionais do povo, por outro, prepara-se o novo ser para os embates da vida, não só entre pessoas, mas também com os espíritos maus.
As casas são outra obra de arte. São feitas de madeira, fibras vegetais, casca e folhas. Elas destinam-se não só a abrigar os vivos, mas são igualmente a residência dos espíritos dos antepassados, pois só com a sua presença a família poderá ter boas culturas e ser bem-sucedida na caça e na pesca. No interior das casas podem estar painéis de madeira onde os antepassados são representados. E é habitual a referência ao mito das suas origens, colocando ao lado crocodilos em posição de ataque, a mostrar os dentes.
Armas para a caça ou de guerra, barcos e remos para a pesca, utensílios para as refeições, tambores ou jóias e ornamentos de uso frequente ou para cerimónias, são outras das obras de arte dos Asmats que são mais do que artesanato. Nunca se pode esquecer que a madeira é vínculo de comunhão com os antepassados, sendo o primeiro deles o deus criador. Portanto, no barco de madeira está o espírito dos antepassados a guiar e a velar pelos pescadores; no arco e na flecha, acontece o mesmo; e os ornamentos também funcionam como amuletos.
Esculturas e linguagem visual
Esculpir é mais do que uma habilidade manual entre os Asmats. Ela exprime a inteligência espiritual e emocional deste povo da Oceânia. Como na sua mitologia, os humanos procedem de estátuas de madeira a que o deus criador deu vida e se tornaram pessoas, as árvores são ícones dos seres humanos e também dos animais. Quando um pai trabalha a madeira e testemunha a arte aos filhos, ele ensina que a raiz da árvore é como os pés, o tronco é o corpo, os ramos são as mãos e as folhas são a cabeça. Em consequência, as esculturas deixam transparecer o carácter dos seres representadas e expressam os seus sentimentos.
Os Asmats vivem imersos na Natureza, conhecem-na ao mínimo pormenor. Por isso, normalmente esculpem de forma directa, sem fazer qualquer esboço.
As esculturas são feitas usando madeira de, principalmente, três árvores: o sagueiro, a teca e o mangue. Utilizam ferramentas simples: o machado para cortar a árvore, e ossos e conchas para modelar a madeira. E as obras são coloridas recorrendo a três cores: vermelho, preto e branco, isoladamente ou misturadas. Cada cor tem um significado: o vermelho significa carne e sangue; o branco representa os ossos; o preto refere-se à sua pele. As cores são produzidas com componentes da Natureza.
As mulheres asmats também são admiráveis no seu artesanato, sobretudo na tecelagem de bolsas. E cada bolsa conta uma história. As cores e os desenhos são linguagem visual.