Durante a JMJ23, foram muitos os momentos em que voltámos a escutar multidões a gritar aquela que já se vai tornando uma das frases chavão das JMJ desde o Papa João Paulo II: «Esta é a juventude do papa!» Confesso que, embora entendendo o seu significado, não creio ser de facto aquela que exprima da melhor forma a mensagem principal do Papa Francisco na JMJ23.
Em todo o caminho de preparação para Lisboa, o maior desejo do Papa Francisco e de toda a organização (incluindo D. Américo Aguiar, acusado do contrário por alguns grupos da Igreja) era que o processo para a JMJ23 fosse de facto um encontro com Cristo Vivo! Daí eu achar que o grito deva ser substituído por este: «Esta é a juventude de Cristo!» Em Lisboa, o Papa Francisco mostrou o caminho para sermos jovens de Cristo. São esses passos que te convido a reflectir comigo agora.
Passo #1: Saber-se e sentir-se chamado pelo nome
Assim começou o papa a sua mensagem na celebração do acolhimento: «Chamados porque amados [por] Ele que em cada dia chama para abraçar e encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única e original, cuja beleza mal conseguimos vislumbrar.»
Sentir-se jovem de Cristo significa em primeiro lugar que não somos fruto e resultado do acaso. Como eu gosto de dizer muitas vezes, o molde com que Deus cria cada um de nós é original e não tem clone. É feito manualmente, com as próprias mãos de Deus, que o torna único. E mais: para nos fazer nascer, esse molde tem de ser desfeito e por isso não pode ser feito outro igual. O papa convidou cada um dos jovens a pensar e imaginar estas palavras escritas «chamado pelo nome» dentro do nosso coração, formando mesmo como o título da nossa vida, o sentido do que somos.
Este primeiro passo do caminho que o papa nos indica para sermos a juventude de Cristo é fundamentado na Palavra de Deus (cf. Is 43,1; 2 Tm 1,9). Na sua mensagem logo na celebração de acolhimento, o papa dirigia-se assim aos jovens: «Amigo, amiga, se Deus te chama pelo nome significa que, para Ele, não és um número, mas um rosto, um coração.»
Passo #2: Sentir que Jesus confia em ti
O segundo passo proposto pelo papa para crescer como jovem de Cristo é saberes que tu e cada um de nós contamos para Ele. Se somos chamados pelo nome é porque nos valoriza, nos ama, conta connosco. Ele não nos abandonará jamais num vazio interior triste. Falando das ilusões do mundo virtual em que o jovem se sente envolvido, o papa quis distinguir Jesus assegurando que Ele não nos vai enganar, nem nos abandonará quando já não formos parte dos números dos algoritmos. Jesus promete e cumpre – Ele quer dar-te a felicidade real, não virtual, eterna e não momentânea como a do mundo virtual. Jesus, ao contrário do utilitarismo das pesquisas de mercado das redes sociais, quer-te pela tua singularidade, pelo que és e como és.
Passo #3: Saber que Cristo te chama assim como és
É muito comum ouvirmos dizer aos mais crescidos que os jovens deviam ser desta ou daquela forma; que os jovens devem adequar-se a esta ou aquela forma de viver em sociedade. Pois bem! O jovem de Cristo é chamado e amado assim como é, a partir da situação pessoal em que vive. Continuava o Papa Francisco na sua mensagem na celebração do acolhimento na Colina do Encontro: «Somos chamados como somos, com os nossos problemas, com as limitações que temos, com a nossa alegria transbordante, com esta vontade de sermos melhores e de triunfar. Somos chamados como somos. Pensem nisto. Jesus chama-me como sou, não como querem que seja.»
Passo #4: Sentir-se parte de um todo, em todos e para todos – uma comunidade
Talvez tenha sido um dos momentos mais marcantes desta JMJ23 – quando o Papa Francisco insistiu no facto de que a Igreja é uma comunidade aberta a todos: «Todos, todos, todos!» Muito se disse (de acertado e de ridículo!) sobre o que quis o papa dizer-nos com estas palavras: «Amigos, quero ser claro convosco, que sois alérgicos às falsidades e às palavras vazias: na Igreja há espaço para todos. Para todos! Na Igreja ninguém está a mais, há espaço para todos. [...] Cada um na sua língua repitam comigo: todos, todos, todos. Esta é a Igreja Mãe de todos.»
Na sua viagem de regresso a Roma depois da JMJ23, o papa voltou a referir-se e a explicar-se de novo ao dizer que na «Igreja há espaço para todos, todos, todos». Ele centrou-se na imagem final usada na Colina do Encontro ao apresentar a Igreja como Mãe de todos para nos fazer entender que de facto a comunidade de irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai que deve ser a Igreja, tem mesmo de ter os braços abertos a todos e todas, sem excepções, sem preconceitos, sem moralismos, sem distinções de raça, género, condição social ou moral… todos é mesmo todos! De que forma? Como uma Mãe! Porquê? Porque uma Mãe, independentemente da condição do seu filho ou filha, acolhe sempre. Pode concordar ou não com as escolhas do filho ou da filha, mas nunca deixará de acolher nos seus braços aquele ou aquela a quem gerou. E é, segundo o papa, esta a atitude e postura da Igreja de Jesus Cristo: acolhedora.
Passo #5: Não se cansar de perguntar
O jovem de Cristo, segundo o papa ainda na celebração do acolhimento na JMJ23, é aquele que faz muitas perguntas e que não deve nunca cansar-se de perguntar. Disse o papa: «E perguntar é bom; aliás muitas vezes é melhor que dar respostas, pois quem pergunta permanece “inquieto” e a inquietude é o melhor remédio contra a habituação, aquela normalidade rasteira que anestesia a alma.»
Há hoje um perigo em alguns ambientes eclesiais mais preocupados em salvaguardar a tradição e a doutrina: uma preocupação crónica de ter de dar respostas a tudo e passar julgamentos morais sobre tudo na sociedade (“aconselhamentos” num conceito mais paternalista). Ainda que haja necessidade de orientação e de propor segundo os valores do Evangelho, o Papa Francisco insiste que «Deus ama por surpresa. Não está programado». E para podermos deixar-nos surpreender é importante não estarmos fixados em ter respostas convincentes e proselitistas a todas as perguntas na vida, dúvidas de fé e desafios que a sociedade de hoje nos lança. Por isso o papa insiste que é importante não deixarmos de perguntar, mais até do que ter sempre de procurar respostas para dar.
Passo #6: Sentir Jesus a caminhar comigo dando-se para eu me dar
O jovem de Cristo, segundo o papa no discurso da Via-Sacra, sente-se confortado e sempre acompanhado por Jesus Cristo no seu caminho de altos e baixos na vida. Sabe que não estás sozinho. Sabe que Jesus não vira a cara aos doentes, aos pobres, aos injustiçados. E sabe que Ele caminha no nosso sofrimento, nas nossas ansiedades, nas nossas solidões.
O jovem de Cristo é assim chamado a perceber como Jesus se entrega e se dá na cruz, nas várias cruzes da nossa vida e do nosso mundo. O papa dizia na Via-Sacra que «a Cruz é o sentido maior do maior amor, daquele amor com que Jesus quer abraçar a nossa vida. Sim! A tua vida, a daquele, a daqueloutro, a de cada um de nós. Jesus caminha por mim. Temos de o dizer a todos. Jesus empreende este caminho por mim, para dar a sua vida por mim. E ninguém tem maior amor de quem dá vida pelos seus amigos, daquele que dá a vida pelos outros. Não vos esqueçais disto: ninguém tem maior amor de quem dá a vida».
Passo #7: Caminhar, levantar-se e não ter medo!
Um outro passo para ser um jovem de Cristo é ter as atitudes que o Papa Francisco propôs na sua mensagem da vigília JMJ23: «Caminhar. Se cair, levantar-me ou deixar que me ajudem a levantar, não ficar caído e treinar-me, treinar-me no caminho. [...] Caminhem com um objectivo, treinem-se todos os dias da vida. Na vida nada é de graça, tudo se paga. Só há uma coisa de graça, o amor de Jesus. Por isso, com esta oferta que temos, o amor de Jesus, e com o desejo e a vontade de caminhar, caminhemos na esperança. Olhemos para as nossas raízes, sem medo, não tenham medo!”
Segundo o papa, estas atitudes vão gerar em nós a alegria missionária – de não poder nem aguentar sem levar a todos o amor de Jesus Cristo!
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