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30 setembro 2023

Servir com alegria na selva peruana

Tempo de leitura: 7 min
O padre Alfonso Tapia trocou a sua terra natal, em Espanha, pelas missões do Peru, país onde vive há mais de vinte anos. O missionário conta-nos a sua experiência na selva amazónica peruana.
Redacção
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Padre Alfonso Tapla (© OMP Espanha)

 

Alfonso Tapia é missionário no Peru há vinte e três anos. Vive numa paróquia do Vicariato de San Ramón, um território eclesiástico na selva amazónica com uma superfície de 80 mil quilómetros quadrados e com apenas 45 sacerdotes. Uma região afastada das grandes urbes, onde as pessoas vivem numa situação de pobreza e as vias de comunicação são muito difíceis. O missionário explica que, na sua missão, as distâncias se medem em horas, não em quilómetros. Por exemplo, da sede do vicariato até à sua paróquia são 277 quilómetros, o que leva quase oito horas a percorrer.

«Por rio, é muito mais complicado. É preciso contratar um navegador experiente para nos levar de barco. Há remoinhos que nos podem “comer”, margens onde podemos ficar presos... Isto faz com que percorrer cada quilómetro no rio seja cinco vezes mais caro do que por estrada», explica o sacerdote num encontro organizado pelas Obras Missionárias Pontifícias (OMP) de Espanha.

 

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O padre Alfonso Tapia com as crianças do internato (© OMP Espanha)

 

Vocação missionária

O missionário conta que o discernimento da sua vocação foi um processo demorado, marcado por um acontecimento. Partiu para uma experiência de voluntariado que revolucionou a sua vida e terminou como sacerdote missionário. «Aos 26 anos, quando era professor de Matemática, participei numa experiência missionária de dois meses no Peru com uma ONG. Isso abriu-me ao mundo e percebi que a Igreja é muito grande, muito rica na sua diversidade, e que há realidades muito diferentes da que eu vivia. Fiquei particularmente impressionado com o padre que lá estava, um jesuíta espanhol. Regressei no ano seguinte e, desde o primeiro momento, a minha intenção era pedir uma licença no trabalho para passar pelo menos três anos com esse padre», explica numa entrevista ao portal Omnes.

No entanto, as coisas correram de forma diferente. «O padre morreu nas festas da aldeia quando exigia justiça para o povo. Isso comoveu-me interiormente, fazendo-me querer viver e morrer da mesma forma, cumprindo o meu dever. Comecei a realizar os trâmites necessários e, em menos de duas semanas, tinha tudo pronto para ir para o Peru durante um ano inteiro. E ali, à sombra do testemunho deste padre, perante as necessidades do povo e, sobretudo, nos momentos de oração, descobre a sua vocação de serviço a Deus e ao Seu povo. Conta que, então, entusiasmado, queria ficar no Peru e começar a estudar Teologia. Mas recomendaram-lhe que regressasse a Espanha, fizesse um bom discernimento de «cabeça fria» e começasse a estudar no seu país. Assim, pouco depois, deixou o trabalho e estudou durante três anos na Universidade Eclesiástica San Dámaso. Depois, achou que era melhor terminar os estudos no Peru. Depois dos contactos, foi aceite na diocese de Lima, na capital do país. E foi ali que conheceu um seminarista da selva e pediu para ir para essa região mais abandonada. Foi ordenado diácono no ano 2000 e presbítero no ano seguinte no Vicariato Apostólico de San Ramón.

 

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O Padre Alfonso durante a celebração de um baptismo (© OMP Espanha)

 

Missão na Amazónia

O padre Alfonso sublinha que no vicariato não falta trabalho e têm de fazer muitas coisas. Actualmente, é o ecónomo do vicariato e também vigário-geral, a pessoa que, mais directamente, apoia o bispo. Além disso, não vive em San Ramón, mas numa paróquia distante no interior, num território missionário histórico, o Gran Pajonal, que é uma zona de comunidades autóctones asháninkas.

Um dos projectos que funciona na paróquia é uma escola com internato para jovens adolescentes das comunidades autóctones que frequentam o ensino secundário, do primeiro ao sexto ano. «Os rapazes e raparigas ficam de domingo à tarde até sexta-feira ao almoço e depois regressam a pé às suas comunidades. Normalmente, caminham entre duas e nove horas. Alguns deles são de mais longe: os pais vêm com motas ou, então, ficam no internato. Tentamos ajudá-los a recuperar o atraso nos estudos e preparamos aqueles que querem ir para o ensino superior», refere.

E precisa: «O mais interessante é que a maior parte dos que perseveram querem ir para a universidade.Temos no vicariato professores bilingues, com sete línguas diferentes. Ajudamos as crianças no processo de melhorar os seus estudos, abrindo-lhes novas oportunidades para o futuro, mas sem deixarem de ser asháninkas, por isso a escola é bilingue e entre eles falam a sua própria língua.» Normalmente, diz, as crianças vêm com um nível bastante baixo de espanhol e a maioria também não tem qualquer conhecimento religioso. Por isso, «ao ritmo que eles querem, nós evangelizamo-los. Alguns pedem o baptismo, outros não». Assim, «respeitando o ritmo deles e dos seus pais, procuramos dar-lhes a conhecer a pessoa de Jesus e, geralmente, eles aceitam-no bastante bem.»

Um dos desafios pastorais, lembra o padre Alfonso, é formar a consciência de todos os baptizados, fazendo-os compreender que todos os crentes estão chamados a ser missionários e membros activos da Igreja. «Há quinze anos que estamos a trabalhar na co-responsabilidade», acrescenta. «Há paróquias um pouco maiores, na cidade, que podem apoiar a sua própria pastoral e até o seu trabalho social, pois muitas têm um refeitório e uma pequena farmácia para que as pessoas possam ter medicamentos seguros a um preço mais económico», refere o missionário. O padre Alfonso termina assinalando que os desafios são muitos, mas é muito feliz em San Ramón. 

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