Todos gostamos de sentir que alguém cuida de nós. Cuidar é uma palavra-chave na vida de Jesus.
Deus é o melhor cuidador em que possamos pensar. Já nas primeiras páginas da Bíblia notamos o seu cuidado com a Humanidade quando «Deus plantou um lindo jardim e colocou nele Adão e Eva». E depois, quando os primeiros pais tiveram de abandonar o paraíso pela sua falta de confiança no Criador, Deus não os deixou ir sem primeiro «confeccionar um vestido para cada um», para que pudessem proteger-se (Gn 1-3).
Podemos dizer que todo o Antigo Testamento nos conta como Deus, com infinita paciência, foi cuidando do seu povo ao longo da sua História. Às vezes tão difícil e atribulada. Mas, o melhor gesto de cuidado connosco, Deus teve-o quando decidiu vir partilhar a nossa vida humana, neste mundo que Ele criou e continua a criar para que a família humana possa viver em harmonia. Estranha maneira de cuidar: em Jesus, Deus cuida deixando-se cuidar por Maria e José, pela gente da sua terra…
Acontece até que Jesus os deixa cheios de aflição, como quando fica para trás no Templo de Jerusalém: «O teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!», diz-lhe a mãe Maria, quando finalmente dão com ele ainda no templo (Lc 2,41-51).
Durante cerca de trinta anos, aquele que é o Cuidador por excelência escolhe «deixar-se cuidar» simplesmente partilhando a nossa vida quotidiana. Talvez pela sua própria experiência de ser cuidado, compreendeu bem a importância de cuidar dos outros. Aprendeu, em casa, com Maria e José e o resto da sua família, o que significa na vida de uma pessoa receber carinho sem condições. Um coração humano assim, junto ao coração do próprio Deus – Eu e o Pai somos um só! – não podia não resultar em Jesus, o Mestre bom em quem todos procuravam consolação e força na hora da fragilidade, da incerteza, da tribulação.
A sua atenção aos outros nunca diminuía, mesmo quando outros preferiam mandar calar quem gritava por ajuda na beira do caminho (Mc 10,46-52). Nunca? E quando dormia no barco, enquanto os discípulos lutavam aflitos com a tempestade? (Mt 8,23-26) Bem, talvez pôr à prova por algum tempo para que cresça a confiança sem condições seja também uma forma de cuidar.
Mesmo quando sofre terrivelmente carregando a cruz para o Calvário, ainda se preocupa com as mulheres de Jerusalém (Lc 23-28). E, do alto da Cruz, ainda arranja forças para pedir ao «discípulo amado» (uma das duas mulheres que lá acompanhavam Maria?) para cuidar da sua mãe (Jo 19,25-27).
Aos discípulos a quem um dia tinha prometido «farei de vós pescadores de homens» Jesus aparece, já ressuscitado – sempre o mesmo cuidador – para lhes indicar a direcção certa para a pesca e alimentar as suas forças dando-lhes «o seu pão», para que continuassem a «pesca», sem medo que os «muitos peixes» (gente de todos os povos!) que entram na rede (Igreja) possam rasgá-la e destruí-la (Jo 21).
A confiança que temos em Jesus que cuida de nós dá-nos a força e a alegria de cuidar uns dos outros.