Amós era um pastor de ovelhas (Am 1,1) e um cultivador de sicómoros (Am 7,14) de Técua, do Reino de Judá (quando Israel se encontrava dividido em dois reinos e governava o rei Ozias em Judá e o rei Jeroboão em Israel), a quem o Senhor chamou para anunciar a Sua Palavra no Reino de Israel.
Ao meditar sobre a condição social dos pastores, recordo-me dos pastores do tempo de Jesus, discriminados e isolados, mas a quem os anjos apareceram para anunciar a Boa Nova (Lc 2, 8-15).
Amós não foi criado para ser profeta. Era um homem comum, que vivia a sua vida com tranquilidade, quando se sentiu chamado por Deus. Ele mesmo refere: «Eu não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor de gado e cultivava sicómoros. Foi o Senhor que me tirou da guarda do rebanho e me disse: “Vai profetizar ao meu povo de Israel.”»
Amós ensina-nos algo muito importante: aceitar a vocação a que somos chamados é um imperativo da nossa fé, não pela grandeza (ou pequenez) do que nos é pedido, mas sim pela grandeza de quem nos chama, Jesus Cristo, Senhor. Este ensinamento faz ecoar no meu coração as palavras do padre Ivo Martins do Vale, missionário comboniano, que dizia: «A grandeza da missão não está naquilo que fazemos, mas naquele que nos envia» (A Missão que Sempre Sonhei, Editorial Além-Mar).
Profeta da justiça social
Amós foi enviado de Judá a Israel para exercer sua actividade profética em Betel, o santuário do rei Jeroboão, onde havia um dos bezerros de ouro.
A missão a que Amós estava destinado não era nada fácil: denunciar, no meio do povo, a idolatria (Am 4, 4-13), a corrupção, a violência e as injustiças sociais (Am 5, 10-15).
A segurança política e económica que os reinos de Judá e Israel alcalcançaram naquela época, favoreceu apenas os comerciantes e a corte; o o povo vivia na miséria. Para Amós, essa injustiça social era fruto da pouca importância que o povo escolhido dava aos mandamentos da Aliança e à vivência de uma religiosidade de aparência. Não amar ao próximo era consequência da falta de amor a Deus.
Optar pelos caminhos do Senhor, caminhos da verdade, da justiça e do amor pode ser muito duro, especialmente quando se vive numa sociedade acomodada a outros valores. Naquele tempo (que poderia ser o nosso), viviam-se grandes injustiças sociais, com os ricos cada vez mais ricos (gerando riqueza de forma iníqua) e os pobres com dificuldade em sobreviver, com os serviços corrompidos e, a nível religioso, com o culto a outros deuses e sem pôr Deus no centro das suas vidas. Contudo, Amós, consciente de que as suas palavras lhe trarão inimizades e poderão até provocar a sua morte, decide ser fiel a Deus e anuncia com ousadia ao Povo de Israel os desígnios de Deus.
Viver com fidelidade a vocação a que somos chamados poderá não ser fácil. Contudo, vale a pena. Edifica-nos, concretiza-nos: felizes os que amam o Senhor e seguem os seus caminhos! (Sl 119).
O profeta, simples pastor, foi incumbido por Deus para alertar o Povo de Israel dos errados caminhos que percorriam e a converter o seu coração, regressando aos caminhos de Deus: «Buscai o bem e não o mal, para que viveis, e o Senhor, Deus do Universo, estará convosco» (Am 5, 14). Amós é um modelo para todos os crentes, chamados a construir uma sociedade mais humana, mais justa, mais ecológica, mais solidária, mais fraterna.
Profetas no mundo de hoje
Também a ti Deus chama a Segui-lo! Também a ti (e a mim), Deus convida a converter o coração e a vivê-lo em plenitude: sem medos, sem dúvidas, sem reservas! Independentemente de te achares (ou não) capaz, põe-te diante do Senhor e diz-lhe: «Eis-me aqui, Senhor! Quero viver com alegria a minha vocação! Sozinho não consigo, Senhor! Mas contigo tudo posso.»
Muitas vezes os profetas, tal como Amós, são chamados por Deus para denunciar os errados caminhos percorridos pelo Povo de Deus. Podemos até pensar que o nosso Deus tem gosto em reclamar, em criticar. Não devemos esquecer-nos disto: Deus é Amor! E, porque nos ama, quer o melhor para nós, quer a construção da fraternidade e da justiça, da paz e da felicidade.
Deus não tem prazer nenhum em ver-nos sofrer! Por isso, o Livro do Profeta Amós termina com palavras de esperança. Num momento em que somos convidados a ser Peregrinos da Esperança, o profeta Amós desafia-nos a esperar em Deus, que tanto nos ama e que quer fazer do coração de cada pessoa, sua morada permanente.
Profeta na comunicação social
O irmão Lwanga Kakule Silusawa é um missionário comboniano da República Democrática do Congo. Abraçou o jornalismo como um instrumento para difundir o Evangelho, denunciar as injustiças sociais e transformar a sociedade. Este é o seu testemunho.
«Nasci em Butembo, na República Democrática do Congo, no seio de uma família católica. Em 2009, entrei no postulantado em Kisangani, onde continuei a discernir a minha vocação, após o que fui admitido ao noviciado. Fiz dois anos de noviciado no Benim e no Togo. Depois, três anos de estudos teológicos na Colômbia.
Em 2014, comecei a estudar Jornalismo em Madrid. Um ano depois, entrei para a redacção da revista comboniana Mundo Negro. Trabalhei lá durante quatro anos. Corrigia os textos que me eram enviados por missionários de todo o mundo, nomeadamente de África e da América Latina.
Seis anos mais tarde, regressei à minha terra natal. A redacção da revista Afriquespoir estava à minha espera. Demorei algumas semanas a conhecer a realidade e a mergulhar na linha editorial desta revista trimestral [publicação comboniana para os países da África francófona].
Aqui já não se trata de falar de África aos europeus, como eu fazia em Espanha, mas de explicar os desafios do continente africano a um público africano.
As dificuldades que enfrentamos devem-se à realidade sociopolítica dos países onde a nossa revista é publicada. Há poucos leitores devido ao analfabetismo e à pobreza.
Nos nossos países africanos, poucas pessoas têm a sorte de poder comprar um livro. Uma parte da nossa missão é tornar os livros e as revistas acessíveis a um preço baixo para chegar aos mais pobres. Muitos alunos, estudantes, professores, catequistas, padres, etc., testemunham que estes materiais são úteis para a sua formação académica, profissional, espiritual e pastoral.
Enquanto jornalistas, o nosso trabalho exige muito tempo de leitura e de contacto com a realidade. Por isso, é difícil falar de coisas que não se viram, tocaram ou sentiram. Vemos esta realidade diariamente e conhecemo-la através do nosso contacto com as pessoas. É por isso que saímos, mesmo fora das nossas fronteiras, para perguntar às pessoas sobre as suas experiências. Visitamos pessoas em paróquias, hospitais, escolas, repartições públicas, centros, etc. Elas têm histórias para contar e experiências para partilhar. Por sua vez, nós temos a missão de as dar a conhecer aos leitores.
O uso dos meios de comunicação é um elemento constitutivo da evangelização realizada pelos Combonianos. Através da revista e dos livros publicados por Afriquespoir, transmitimos a Boa Nova e contribuímos para a formação intelectual, espiritual e missionária do Povo de Deus.
Isto exige de nós uma atitude de escuta. Escutar com o coração para falar com o coração, como encoraja o Papa Francisco, é escutar a realidade que nos rodeia, as pessoas que encontro nas ruas ou nas paróquias, as que entrevisto ou fotografo, e assim tratar com respeito as pessoas que partilham comigo as suas histórias para que eu as possa contar aos leitores.
Como irmão missionário comboniano jornalista, sinto-me feliz com a minha missão. Anuncio o Evangelho através de revistas, livros, programas de rádio e televisão, redes sociais e sítios web. Sinto-me convidado a ser fiel ao Evangelho e a melhorar a qualidade do meu serviço: ser um bom jornalista e missionário.»