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21 outubro 2024

Com os veteranos da missão

Tempo de leitura: 4 min
O irmão Luis Humberto Gonzales, missionário comboniano peruano, enfermeiro de profissão, partilha a sua vida e missão com os missionários anciãos e doentes, fazendo-os sentirem-se cuidados e amados.
Luis Humberto Gonzales
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Tenho 49 anos de idade e desde a minha consagração religiosa prestei vários serviços no Instituto dos Missionários Combonianos a que pertenço. Passei cinco anos em Milão como enfermeiro-chefe da equipa de enfermagem do lar de idosos da congregação. Depois passei oito anos numa missão de primeira evangelização na Etiópia como administrador de duas pequenas escolas, responsável pelo grupo de jovens e pelos projectos sociais da missão. De 2015 a 2021, fui ecónomo na minha província comboniana de origem, o Peru.  

Agora, estou na casa dos idosos e doentes dos Missionários Combonianos em Castel D’Azzano, muito perto da cidade de Verona, Itália.

A comunidade acolhe 65 missionários, na sua maioria italianos, que já não podem permanecer nos lugares para onde foram destinados e foram enviados para esta casa de repouso para serem assistidos e acompanhados até ao dia da sua partida definitiva deste mundo. Muitos deles ocuparam cargos significativos e importantes para o Instituto e para a Igreja em todos os continentes [entre eles encontra-se o padre Manuel João Pereira Correia, que sofre há 14 anos de esclerose lateral mmiotrófica e foi missionário no Togo durante muitos anos]. Foram formadores, superiores e há mesmo um antigo superior-geral. Há também bispos, professores, grandes conhecedores da cultura dos países onde estiveram, empreendedores que abriram caminhos para gerações de futuros missionários, alguns viveram a guerra e outros tiveram de suportar a expulsão do país onde trabalhavam. Agora tudo é muito diferente para eles, porque as suas forças são muito limitadas.

 

Serviço aos anciãos e doentes

Sou responsável pela administração deste lar e, como enfermeiro, tenho a responsabilidade de assegurar que o serviço prestado pelo pessoal de saúde externo corresponda ao serviço que os nossos irmãos idosos merecem. Partilho a sua vida quotidiana e a aceitação serena da sua situação. Estou também com eles nas suas experiências de dor, sofrimento e limitação devido a doenças degenerativas e terminais. Estes momentos tornaram-se para mim uma experiência significativa de caridade e compaixão, porque nós, Missionários Combonianos, somos a sua família. Além dos seus familiares, amigos e conhecidos, nós, os seus confrades, ocupamos um lugar central nas suas vidas. Alguns exprimem a sua satisfação por saber que um comboniano como eles está ali naquele momento. Por vezes só podemos acompanhá-los fisicamente, para lhes dar um sentimento de proximidade, fazendo-os sentir amados quando precisam de um olhar, de uma palavra ou simplesmente do toque silencioso de uma mão amiga. Outras vezes, ajudamo-los a ler uma carta, a comunicar por telefone ou videochamada e, assim, aproveitamos a oportunidade para partilhar com os seus familiares e amigos o caminho de saúde que estão a percorrer.

Acompanhar pessoas que deram a sua vida pelos mais necessitados em lugares remotos e por vezes perigosos faz-me sentir privilegiado. Todo o bem que eu possa fazer a estes irmãos é pouco comparado com o que eles foram capazes de fazer por tantas pessoas. Os nossos confrades mais idosos fazem parte da história do Instituto e são testemunhas fiéis do carisma de São Daniel Comboni. Para isso basta conhecer a história das missões que abriram, as expulsões que sofreram e os compromissos e desafios que aceitaram ao longo da sua vida. Resta-me esperar que os combonianos mais jovens e eu possamos estar à altura do exemplo daqueles que nos precederam. Somos nós que estamos a substituir estes antigos evangelizadores para levar por diante na Igreja o espírito e o carisma missionário de São Daniel Comboni.  

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EDIÇÃO
Novembro 2024 - nº 751
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