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04 outubro 2024

Ser Igreja sinodal em missão

Tempo de leitura: 7 min
A sessão conclusiva da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos decorrerá de 2 a 27 deste mês de Outubro. Um acontecimento eclesial que quer lançar as bases para um novo modo de ser Igreja.
Olga Consuelo Vélez
Doutora em Teologia
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O Sínodo sobre a Sinodalidade foi convocado pelo Papa Francisco em 2021 e passou por várias etapas: a consulta ao Povo de Deus; os encontros continentais; a primeira sessão em Roma em Outubro de 2023; a segunda sessão em Roma neste mês, a que nos referimos neste texto.

Neste longo processo, foram publicados seis documentos: Documento Preparatório; Documento de Trabalho para a Etapa Continental; Documentos Finais das Assembleias Continentais; Instrumentum Laboris para a Primeira Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos; Relatório Final dessa Assembleia; Instrumentum Laboris para a Segunda Sessão da XVI Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos.

Vale a pena conhecer todos os documentos que surgiram deste processo sinodal, porque servem para tomar o pulso ao caminho percorrido. Os primeiros documentos retomaram muitos dos pedidos explícitos do Povo de Deus, que muitas pessoas gostariam de ver repensados na Igreja, actualizados ou considerados como um sinal dos tempos que não pode ser deixado de lado. No entanto, no esforço de síntese de tantos documentos, alguns aspectos foram diluídos e não serão considerados na Segunda Sessão desta Assembleia Sinodal. De facto, o Papa Francisco decidiu que dez dos temas complexos – e até controversos – propostos nessas etapas seriam trabalhados em dinâmica sinodal por grupos de estudo em articulação com alguns dos dicastérios da Cúria Romana. Essas dez comissões estudam, também em período pós-sinodal, os seguintes pontos: alguns aspectos das relações entre as Igrejas católicas orientais e a Igreja latina;
a escuta do grito dos pobres; a missão no ambiente digital; a revisão da Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis numa perspectiva sinodal missionária; algumas questões teológicas e canónicas sobre formas ministeriais específicas; a revisão, em uma perspectiva sinodal e missionária, dos documentos que regem as relações entre bispos, vida consagrada, agregações eclesiais; alguns aspectos da figura e do ministério do bispo numa perspectiva sinodal missionária; o papel dos representantes pontifícios numa perspectiva sinodal missionária; critérios teológicos e metodologias sinodais para um discernimento partilhado de questões doutrinais, pastorais e éticas controversas; a recepção dos frutos do caminho ecuménico nas práticas eclesiais. 

Os resultados dos estudos destes grupos serão apresentados em meados de 2025 (mas fazem um ponto de situação aos participantes da segunda sessão do sínodo). Esperemos que este trabalho obtenha resultados concretos.

 

Igreja sinodal-missionária

Vejamos, sumariamente, o documento de trabalho para a sessão de Outubro. É constituído por uma introdução que faz o balanço dos três anos de progressos realizados e pela oferta deste documento como instrumento de trabalho para esta segunda sessão. As três partes que compõem o corpo do documento pretendem iluminar a vida sinodal missionária da Igreja a partir de três perspectivas: as relações eclesiais, os carismas e os ministérios, a Igreja e o mundo; a perspectiva dos caminhos que sustentam e alimentam o dinamismo das relações em termos concretos: formação integral, discernimento eclesial, articulação dos processos de decisão, transparência, prestação de contas, avaliação; os lugares que falam da realidade dos contextos em que se encarnam as relações: territórios, Igrejas locais, vínculos que configuram a unidade, o serviço à unidade do Bispo de Roma. O documento conclui afirmando a Igreja sinodal no mundo.

Detenho-me nestes dados porque é útil conhecer o caminho percorrido para nos situarmos no momento actual. A tónica para esta Segunda Assembleia é responder à pergunta: como podemos ser uma Igreja sinodal missionária? E saberemos as respostas a esta pergunta no final da Assembleia. No entanto, não bastará o que definam, concluam ou proponham nesta Assembleia se esta pergunta não for feita em cada Igreja local, em cada comunidade paroquial, na vida particular de cada crente e procurar ser respondida. 

 

Fazer da sinodalidade
uma realidade 

Tornar-se uma Igreja sinodal não se faz por decreto. Pressupõe a tomada de consciência, por parte de cada membro do Povo de Deus, da chamada a ser uma Igreja na qual todos os seus membros têm uma participação activa e empenhada, em virtude da dignidade baptismal que os torna a todos «profetas, sacerdotes e reis».

Para alguns, esta insistência em «caminhar juntos» que, por outras palavras, é a participação plena na vida e na missão da Igreja, é irrelevante. Estão tão habituados a deixar tudo nas mãos do clero, e o clero tão habituado a tomar todas as decisões, que não estão dispostos a assumir as novas atitudes, os novos processos, as formas verdadeiramente participativas de discernimento e de tomada de decisões que tornariam real uma Igreja sinodal. Deveríamos perguntar-nos até que ponto compreendemos bem o que é este sínodo sobre a sinodalidade e até que ponto estamos dispostos a assumi-lo.

Além disso, a Igreja sinodal-missionária é aquela que está pronta para evangelizar no mundo de hoje com todos os seus desafios. Mas também aqui, para alguns, é suficiente lamentar a secularização do mundo actual e contentar-se em reforçar «que sempre se fez assim», num esforço para tornar a Igreja visível nestes tempos em que ela já não interessa a muitos. Devemos perguntar-nos até que ponto estamos dispostos a compreender os sinais dos tempos para lhes responder com criatividade e audácia, «sem medo de nos ferirmos e esmagarmos» – como disse o Papa Francisco na sua primeira exortação Evangelii Gaudium – para mostrar a relevância da Boa Nova do Reino para o aqui e agora do nosso tempo.

Em suma, será muito importante que acompanhemos este caminho sinodal, envolvendo-nos nele, mantendo-nos informados e, claro, com a oração por este acontecimento eclesial; mas, sobretudo, como dissemos antes, procurando entrar pessoalmente neste processo, começando a fazer as mudanças necessárias na nossa própria experiência de fé e na comunidade eclesial em que participamos, para que a Igreja de hoje se renove e possa ser, na verdade, Boa Nova para os nossos contemporâneos.  

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