Oseias, do hebraico hoshe’a, é a forma abreviada de «Javé salva». Esse profeta do século viii a. C., filho de Beeri, natural da tribo de Efraim, testemunhou a decadência moral e espiritual do povo de Israel, um período marcado pela complacência, a injustiça, a corrupção, a idolatria, o colapso moral. Agricultor da classe nobre, homem fiel, santo e apaixonado por Deus, teve de ser profeta. Com uma analogia que se baseava na sua vida pessoal, Oseias denunciou a infidelidade e os caminhos errados percorridos pelo povo de Israel, persuadindo-o ao arrependimento e à conversão; ao mesmo tempo, com a sua palavra e exemplo, semeava mensagens de amor, misericórdia, perdão e esperança.
Fidelidade do Deus-Amor
Os desígnios de Deus são insondáveis e compreender a vontade do Senhor nas nossas vidas pode tornar-se bastante difícil. Contudo, confiar em Deus e no Seu Amor pressupõe aceitar o que nos pede, viver as nossas vidas de acordo com o Espírito. O seu amor e fidelidade à Palavra do Senhor fez com que Oseias aceitasse casar-se com uma mulher pecadora: «O Senhor começou a falar a Oseias, dizendo-lhe: “Vai, toma por mulher uma prostituta, e gera filhos de prostituição, porque a nação não cessa de se prostituir, afastando-se do Senhor”. Então, ele foi e desposou Gómer» (Os 1, 1-2).
A relação de Oseias com a sua esposa compara-se, pois, à relação de Deus com o povo de Israel. Apesar do Amor do Senhor pelo Seu povo, estes desviaram-se do Deus, corromperam-se, adorando outros falsos deuses. Havia muitas injustiças sociais, o povo tinha-se desviado dos caminhos rectos e da sua relação com o Senhor. O sofrimento de Oseias provocado pela infidelidade da sua esposa, e que acabam por se separar, tem correspondência com o sofrimento de Deus que ama um povo que não segue os seus preceitos; homens e mulheres que não O amam nos seus corações e nas suas obras.
A infidelidade de Gómer para com Oseias, a infidelidade do povo de Israel para o Senhor, também nos deve fazer reflectir sobre a nossa relação com Deus, sobre a nossa pequenez perante a grandeza do Amor de Deus. Todavia, deve-nos encorajar a sermos fiéis a Deus e a compreender que necessitamos da presença viva e eficaz do Senhor nas nossas vidas. Com efeito, só com Deus nas nossas vidas conseguimos força para enfrentar os desafios deste mundo, por vezes tão difíceis.
Esta infidelidade da mulher de Oseias e do povo de Israel poderá acontecer com qualquer um de nós. De facto, inseridos nos nossos trabalhos diários, nas ocupações familiares, na vida social muitas vezes não temos tempo para Deus. Uma das mensagens importantes de Oseias é a de que o povo se perde por falta de conhecimento do próprio Deus (Os 4, 6). Por isso, é muito importante ter tempos diários de oração, de escuta da Palavra, momentos em que nos encontramos sós com o Senhor, que tanto nos ama: uma relação verdadeira e sincera com Deus. E porque necessitamos de momentos íntimos com Deus, Ele tem este desejo: levar-te-ei ao deserto e falar-te-ei ao coração
(Os 2,16).
O profeta Oseias procurou a conversão sincera do povo ao Senhor. O seu amor a Deus e ao povo fizeram-no persuadir os seus co-cidadãos a converterem-se, a retornar ao caminho da Aliança! Assim também cada um de nós deve ser profeta nos dias de hoje, anunciando Deus com a sua vida, de coração humilde e sincero.
A força do Amor
A história de Oseias com a sua esposa, a história de Deus com o seu povo, é uma história de amor, de perdão. Assim pode ser a nossa relação com Deus. Apesar da infidelidade de Gómer, Oseias foi resgatá-la e, como se fosse uma escrava, pagou para a reaver (Os 3,2). De igual modo, também Deus promete perdoar o Seu povo, renovar a Aliança e derramar bênçãos sobre o povo (Os 14, 2-7).
A vocação de Oseias, de fidelidade e de puro amor por uma mulher que lhe foi infiel também nos ensina a perdoar e a amar. O amor de Deus por nós é permanente e eterno!
Jesus que nos chama a segui-Lo, cada um de acordo à sua vocação específica, conhece-nos e ama-nos profundamente. Convida cada um de nós a vivermos uma relação única com Ele, a amá-lo e a sentir o Seu grandioso amor. Na cruz, o Filho de Deus deu-nos o testemunho do Amor pleno por nós, dando a sua vida por toda a Humanidade, por amor! Por isso, os discípulos-missionários sabemos que o amor é o motor que nos nos impulsiona a ser testemunha da Boa Notícia até aos confins do mundo. Assim o compreendeu Santa Teresinha do Menino Jesus que no término da sua busca vocacional disse: «A minha vocação é o amor!» A santa, padroeira da Missões, percebeu que a Igreja não existe sem o amor e que, portanto, não é possível evangelizar sem o amor.
Missionário do Amor
O irmão Marco Antônio Coelho de Faria é um jovem missionário comboniano brasileiro. Fez a sua consagração religiosa e missionária perpétua no passado dia 2 de Dezembro e está, actualmente, no Sudão do Sul. Partilha connosco o seu testemunho vocacional.
«Tive a sorte de trabalhar desde muito cedo numa multinacional. Aos 18 anos, comecei a cursar Engenharia Mecânica, formando-me com 23 anos. Consegui trabalho noutra empresa, com melhor salário e melhores condições laborais.
Posso dizer que era um jovem que tinha o que muitos outros jovens querem ter. Era (e continuo sendo) extrovertido. Com 18 anos já tinha a minha independência financeira. Tinha saúde, dinheiro, carro, amigos, namoradas, ou seja, tudo o que muitos jovens hoje sonham ter, para alcançar a felicidade.
Ainda assim, sentia que me faltava alguma coisa. Foi quando eu comecei a reflectir mais profundamente sobre o sentido da felicidade. Aproveito para lhes fazer também a pergunta que fiz a mim mesmo: Qual será a maior sensação de felicidade que podemos experimentar? A resposta que me encheu de sentido foi: o amor. Desde aquele momento procurei entender como eu poderia viver mais plenamente este que é o maior sentimento do ser humano.
Nessa busca, a frase “Deus é amor” fez-me interessar em ler a Bíblia, mais especificamente o Novo Testamento. Sentia-me mais apaixonado a cada página que lia, e cheguei à conclusão de que amar a Deus mais que a qualquer coisa, amar ao próximo como a mim mesmo, ou seja, fazer o bem como eu gostaria que fizessem comigo, nisto estava o segredo da felicidade. Se eu dedicasse todo o meu tempo, toda a minha vida a fazer o bem aos mais necessitados, eu poderia ser plenamente feliz.
Foi o que procurei fazer desde aquele momento. Primeiro, participei num grupo de jovens e comecei a ajudar os mais excluídos e necessitados; depois, como seminarista, na minha diocese. Depois conheci a vida missionária; senti que Deus me chamava a ser irmão missionário comboniano e ser enviado, nas palavras de São Daniel Comboni, aos “mais pobres e abandonados do Universo”, concretamente, ao povo africano.
É por isso que hoje sou irmão missionário comboniano e encontrei a felicidade. Procuro, com a minha vida quotidiana, dar testemunho do amor de Deus.»