Ezequiel, cujo nome significa «Deus é minha fortaleza ou força», era sacerdote e filho de Buzi (cf. Ez 1,3). Exerceu a sua actividade profética entre os anos 593-571 a. C., um período conturbado da história de Israel, durante o tempo da deportação do povo de Israel para a Babilónia. No seu livro utiliza o género literário da teofania e, por isso, encontramos muitos símbolos e visões, muitas delas enigmáticas, mas que têm um grande sentido espiritual.
A força do chamamento
A vocação de Ezequiel é narrada como uma série de visões da glória de Deus: «No quinto dia do quarto mês do trigésimo ano, quando me encontrava entre os exilados, nas margens do rio Cabar, o céu abriu-se e, então, contemplei visões divinas» (Ez 1, 1).
A palavra que Deus pronuncia é tão relevante que o profeta deve pôr-se de pé. E, enquanto Deus lhe falava, recebeu o Espírito (cf. Ezequiel 2, 1-2).
Ezequiel põe-se de pé para ouvir a mensagem que Deus. Levantamo-nos na eucaristia para escutar o Evangelho; levantamo-nos quando cumprimentamos alguém; levantamo-nos quando num espectáculo queremos demonstrar o nosso agrado e entusiasmo. Também perante o anúncio de Deus, relativamente à nossa vocação devemos estar de pé, conscientes de que é uma mensagem essencial para nós, que temos o dever de valorizar, respeitar e acolher.
A descoberta da vocação de cada um de nós pode acontecer das maneiras mais incríveis, pois a imaginação de Deus e o Seu Amor por cada um de nós não tem limites. São tantos os sinais, tantos acontecimentos que nos falam de Deus e nos inspiram a vivê-lo e a anunciá-lo que nos caberá a cada um de nós abrir o Seu coração e permitir que Deus nos fale. Perante a descoberta vocacional quantas vezes sentimos medo, confusão, inquietação? Quantas vezes sentimos que não temos as competências para seguir determinado caminho? A verdade, porém, é que Deus sabe o que é melhor para nós e continuamente nos inspira a viver a nossa própria vocação. O nosso Deus não nos obriga, não nos violenta, mas não desiste, pelo contrário, é paciente e persistente. Já São Paulo nos dizia que o amor «tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1 Cor 13, 7).
Missão difícil
Deus chama Ezequiel e envia-o a profetizar ao povo rebelde, que tinha «a cabeça dura e o coração obstinado» (cf. Ez 2, 3-4). Era um povo que se tinha afastado da Aliança e do Deus da vida. Agora, escravizados no exílio, os israelitas viviam desorientados, desiludidos, desanimados. O profeta relata que o Senhor lhe indicou a sua missão e lhe disse: «Filho do homem, põe em teu coração as palavras que eu te disser e escuta-as com teus ouvidos. Vai, dirige-te aos exilados, teus compatriotas. Fala, dizendo-lhes: Assim fala o Senhor Deus – quer ouçam, quer não» (Ez 3,10-11).
A grande missão de Ezequiel era denunciar os pecados e a infidelidade do povo e convidá-lo com veemência à conversão. Ele falava da natureza interior da religião, pois Deus quer habitar no coração de cada pessoa. No entanto, a sua missão também incluía o anúncio da esperança, de um tempo de restauração e de uma nova Aliança. Deus, que é amor e misericórdia, é como um bom Pastor, que virá e apascentará as suas ovelhas, cuidando de cada uma delas (Ez 34). Deus pela sua acção poderosa renovará cada um dos seus filhos e filhas: «Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo. Tirarei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Porei em vós o meu espírito e farei com que andeis segundo minhas leis e cuideis de observar os meus preceitos. Habitareis na terra que dei a vossos pais. Sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus» (Ez 36,26-28).
O profeta Ezequiel sabia que a sua missão era difícil, mas também estava convencido de que a sua vida pertencia a Deus, que lhe dava a força para não desfalecer, resistindo aos combates que tinha de enfrentar por amor a Deus. Para realizar essa tarefa, o profeta sabia que não se encontrava sozinho, pois «a mão do Senhor estava sobre ele» (Ez 1, 2).
Compreender que Deus nunca nos abandona é extremamente difícil! Mas Deus, de facto, está connosco, sofre connosco, escuta as nossas inquietações, alegra-se connosco e nos envia o seu Santo Espírito para que possamos compreender melhor a Sua vontade nas nossas vidas. Contudo, tal como aconteceu com o profeta, também a mão do Senhor estará connosco e nos iluminará.
A missão que Deus dirige a cada um de nós pode não ser fácil e não raras vezes nos dá insónias, medo, sobressalto; viver Deus e os valores do Reino obrigam-nos muitas vezes a desinstalar-nos de comodismos, a sofrer. Contudo, Deus está presente, nos ilumina e nos acompanha! O profeta Ezequiel diz-nos que Deus coloca em nosso íntimo o Seu Espírito (Ez 36, 27). Deus, com os seus dons, capacita aqueles que escolhe e nem sempre escolhe aqueles que a nossos olhos são os mais capazes. Também a cada um de nós Deus capacita, nos anima a viver sem medo a nossa própria vocação, seja ela de vida laical, religiosa, presbiteral ou missionária.
Amar e servir o próximo
Há muitas pessoas que sentem o chamamento de Deus para o servir. É o caso do jovem mexicano José Guillén. Tem 21 anos e encontra-se no postulantado comboniano do México a discernir a sua vocação e a preparar-se para a vida missionária seguindo o carisma de São Daniel Comboni. Ele partilha a sua história vocacional.
«Uma ocasião, durante uma adoração ao Santíssimo, vi o sacerdote que dirigia a oração e pensei: “Quero ser como ele.” Pouco depois, ouvi no meu interior uma voz que me dizia: “Se queres seguir-me, pega a tua cruz e segue-me; o teu caminho não será fácil, mas cada vez que caias, eu estarei aí para levantar-te.” Nesse momento chorei, pois nunca tinha tido uma experiência dessas.
Como resposta a esse chamamento, fiz o discernimento vocacional e agora estou no seminário comboniano de San Francisco de Rincón, Guanajuato. O carisma dos Missionários Combonianos tocou-me o coração e fez-me assumir e começar este longo caminho. Posso dizer-lhes que somente a ideia de um dia partir para a África como missionário me deixa feliz.
Sinto tranquilidade e alegria neste percurso formativo, sobretudo quando visito a comunidade cristã onde faço apostolado; visitamos as famílias e convidamo-las a participarem nas actividades pastorais que organizamos para crianças (catequese, iniciação à liturgia) e adultos. Estas actividades emocionam-me muito e considero-as uma forma de amar e servir o povo de Deus.»