O P.e Joaquim Moreira é natural de Vila Nova de Famalicão, cidade do distrito de Braga. É o primeiro de três filhos. Nesse ambiente minhoto e no seio de uma família católica, desperta a sua inquietação pela vida missionária.
Discernimento vocacional
O P.e Joaquim recorda que a sua adolescência foi muito marcada pela busca do seu caminho para o futuro. «Entre as várias escolhas que me apareciam pela frente, sem dúvida o desejo de fazer algo de bom e grande pelos outros cativava-me muito... Este desejo foi sendo alimentado pela leitura das revistas missionárias Audácia e Além-Mar que recebíamos em casa», sublinha.
Conta que descobrir a sua vocação foi um processo progressivo e desafiante. Comprometeu-se na paróquia, especialmente na liturgia – como acólito e leitor –, mas também como escuteiro. «No entanto, sentia-me chamado a algo mais. O meu pároco também alimentou este desejo que sentia dentro de mim e um dia provocou-me abertamente: “Não gostarias de ser padre?” Sorri e disse: “Porque não?”», diz o missionário.
O tempo foi passando e o discernimento continuava. Um dia, os Missionários Combonianos passaram pela paróquia de Jesufrei. «Depois de ouvir as experiências missionárias – comenta –, eu disse para comigo: “É este o caminho e o momento para tentar!” Era o dia 31 de Março de 1990! Comecei assim a participar nos encontros de promoção vocacional para adolescentes e jovens.»
Com a vontade de aprofundar o chamamento de Deus para a vida missionária, o jovem Joaquim entra em 1992 no seminário de Famalicão. Continua a formação missionária na Maia e depois em Coimbra. Faz a primeira profissão religiosa em 1999 e parte para Roma (Itália), para estudar Teologia. Em 2003, é ordenado sacerdote comboniano e, durante cinco anos, trabalha na comunidade de Viseu na pastoral vocacional e juvenil.
Missão na Etiópia
Foi no ano de 2008 que o P.e Joaquim foi destinado à missão na Etiópia. Antes de partir realiza em Londres um período de estudo do inglês e em Addis-Abeba, capital da Etiópia, dedica-se a aprender o amárico, a língua nacional desse país africano.
Nove meses depois parte para a missão de Gilgel Beles, entre o povo Gumuz. «Chegado à missão, a “minha terra prometida”, a primeira grande alegria que senti foi ter sido enviado a uma missão “verdadeiramente comboniana”, a missão com que eu tinha sempre sonhado: uma missão jovem, começada em 2003, e entre os “mais pobres e abandonados”. Os Gumuz são de facto um dos grupos mais esquecidos e marginalizados da Etiópia», refere.
O P.e Joaquim esteve nove anos na missão de Gilgel Beles. O seu principal empenho foi o trabalho pastoral. Foi pároco e o seu «maior investimento em tempo e dedicação foi na formação de catequistas e outros agentes pastorais como os animadores e líderes das comunidades nas aldeias». Juntamente com o trabalho pastoral, a comunidade comboniana desenvolvia alguns projectos no campo social, nomeadamente o jardim-de-infância e a abertura de alguns poços de água.
«O que recordo de mais positivo nestes anos foi a atitude de procurar caminhar juntos, fazer juntos (missionários, pessoas em geral, catequistas...) um caminho de busca da presença de Deus e dos valores de Jesus e do seu Evangelho, nessa cultura e nos eventos de cada dia», refere o missionário. Por outro lado, «procurei responder a esta presença com generosidade e que os valores de Jesus possam cada vez mais ser acolhidos e penetrar nas escolhas que cada dia a pessoa é chamada a fazer. Caminhar juntos nem sempre é tarefa fácil, mas a busca em conjunto cria laços que se vão reforçando no caminho!», enfatiza o missionário.
Entre os mais esquecidos
Os Gumuz são uns 200 mil, uma minoria nos cem milhões de habitantes da Etiópia. Como povo foram sempre perseguidos e escravizados pelos povos vizinhos, especialmente os Amaras. O território gumuz era uma reserva de caça para os Amaras na época imperial. Sendo um povo marginalizado e esquecido, falta de tudo: investimento na educação, saúde, técnicas agrícolas, etc. A população vive da agricultura, uma agricultura de subsistência.
A Igreja Católica tornou-se presente na região de Benishangul Gumuz pelo trabalho das Missionárias e dos Missionários Combonianos. «Fiéis ao carisma de S. Daniel Comboni, a nossa presença entre este povo sem voz nem vez é motivo de esperança: sabem e sentem que não estão abandonados a si próprios nem ao desprezo dos outros, mas que têm, em si mesmos, capacidades para lutar e para mudar o que consideram o “destino fatídico” que os antepassados viveram», menciona o P.e Joaquim. «Da boca de um dos nossos cristãos ouvi um dia este testemunho: temos de agradecer muito a Deus a presença dos missionários entre nós, porque “alguém se lembrou de nós”! A presença do missionário é antes de mais o testemunho de que Deus está do lado deles!»
O missionário afirma que «a alegria é uma das características do povo Gumuz: alegria porque cada dia a vida se renova, alegria pela partilha e entreajuda entre as pessoas. A presença dos missionários e missionárias, da Palavra de Deus, é acolhida com alegria. A maioria da população é jovem, as crianças e os jovens abundam, o que ajuda muito a manter vivo o entusiasmo». Foi nesse contexto socioeclesial que aprendi verdadeiramente o significado da expressão «Deus ama a quem dá com alegria».
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