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25 julho 2021

Idosos: construtores activos do amanhã

Tempo de leitura: 11 min
Na mensagem para o I Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que a Igreja Católica vai celebrar a 25 de Julho, o Papa Francisco evoca o sofrimento dos mais velhos durante a pandemia e encoraja-os a ser construtores activos de um futuro melhor.
Bernardino Frutuoso
Director
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(© 123RF)

 

O Papa Francisco instituiu o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que se vai assinalar cada ano no quarto domingo de Julho, junto com a celebração litúrgica de São Joaquim e Santa Ana (26 de Julho).

Este ano, a jornada celebra-se no dia 25 de Julho e o papa publicou uma mensagem para a efeméride, intitulada “Eu estou contigo todos os dias” (cf. Mt 28,20). No texto, dirige-se na primeira pessoa aos avôs e avós de todo o mundo, num «tempo difícil». «Bem sei que esta mensagem te chega num tempo difícil: a pandemia foi uma tempestade inesperada e furiosa, uma dura provação que se abateu sobre a vida de cada um, mas, a nós idosos, reservou-nos um tratamento especial, um tratamento mais duro», afirma o papa.

Francisco, com 84 anos, apresenta-se como um idoso e sublinha a importância de manter viva a fé, num momento de particular sofrimento. «Muitíssimos de nós adoeceram – e muitos partiram –, viram apagar-se a vida do seu cônjuge ou dos seus entes queridos, e tantos – demasiados – viram-se forçados à solidão por um tempo muito longo, isolados», recorda. «Toda a Igreja está solidária contigo – ou melhor, connosco –, preocupa-se contigo, ama-te e não quer deixar-te abandonado», sublinha o Santo Padre.

O pontífice recorda a experiência de sofrimento de São Joaquim e Santa Ana, os pais de Maria, mãe de Jesus, para falar das «noites de insónia» de muitos idosos, «povoadas por lembranças, inquietações e anseios».

Anjos enviados por Deus

O papa lembra que, mesmo que haja perdas e sofrimentos por causa da pandemia, Deus está sempre presente, pois «o Senhor conhece cada uma das nossas tribulações deste tempo. Ele está junto de quantos vivem a dolorosa experiência de ter sido afastado; a nossa solidão – agravada pela pandemia – não O deixa indiferente». 

 

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O Papa Francisco em oração durante a visita a um lar de idosos em Roma no ano de 2016 (© Lusa/Osservatore Romano) 

Francisco precisa que o Senhor se manifesta por meio de anjos. «Mesmo quando tudo parece escuro, como nestes meses de pandemia, o Senhor continua a enviar anjos para consolar a nossa solidão repetindo-nos: ‘Eu estou contigo todos os dias’. Di-lo a ti, di-lo a mim, a todos. Está aqui o sentido deste Dia Mundial que eu quis celebrado pela primeira vez precisamente neste ano, depois dum longo isolamento e com uma retomada ainda lenta da vida social: oxalá cada avô, cada idoso, cada avó, cada idosa – especialmente quem dentre vós está mais sozinho – receba a visita de um anjo!».

E o pontífice explica que «este anjo, algumas vezes, terá o rosto dos nossos netos; outras vezes, dos familiares, dos amigos de longa data ou conhecidos precisamente neste momento difícil. Neste período, aprendemos a entender como são importantes, para cada um de nós, os abraços e as visitas, e muito me entristece o facto de as mesmas não serem ainda possíveis em alguns lugares». O Senhor, continua o papa, «envia-nos os seus mensageiros também através da Palavra divina, que Ele nunca deixa faltar na nossa vida. Cada dia, leiamos uma página do Evangelho, rezemos com os Salmos, leiamos os Profetas! Ficaremos comovidos com a fidelidade do Senhor. A Sagrada Escritura ajudar-nos-á também a entender aquilo que o Senhor nos pede hoje na vida. De facto, Ele manda os operários para a sua vinha a todas as horas do dia (cf. Mt 20, 1-16), em cada estação da vida».

O papa lembra que ele mesmo foi chamado a ser Bispo de Roma quando tinha chegado, por assim dizer, a idade da reforma, mas que «o Senhor está sempre junto de nós – sempre – com novos convites, com novas palavras, com a sua consolação, mas está sempre junto de nós. Como sabeis, o Senhor é eterno e nunca vai para a reforma. Nunca».

Sempre missionários

Francisco lembra que os anciãos também são discípulos missionários: «No Evangelho de Mateus, Jesus diz aos Apóstolos: “Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado” (28, 19-20).» E salienta que «estas palavras são dirigidas também a nós, hoje, e ajudam-nos a entender melhor que a nossa vocação é salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Atenção! Qual é a nossa vocação hoje, na nossa idade? Salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Não vos esqueçais disto».

 

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O Papa Francisco afirma que os idosos estão chamados a construir activamente o mundo de amanhã, na fraternidade e na amizade social (© 123 RF) 

Francisco sustenta que os mais idosos têm um papel a desempenhar na Igreja e na sociedade: «Não importa quantos anos tens, se ainda trabalhas ou não, se ficaste sozinho ou tens uma família, se te tornaste avó ou avô ainda relativamente jovem ou já avançado nos anos, se ainda és autónomo ou precisas de ser assistido, porque não existe uma idade para reformar-se da tarefa de anunciar o Evangelho, da tarefa de transmitir as tradições aos netos. É preciso pôr-se a caminho e, sobretudo, sair de si mesmo para empreender algo de novo.»

O papa recorda também que alguns idosos podem até afirmar que não têm condições por um motivo ou outro, porém, não devem perder a coragem, pois «existe uma renovada vocação», para cada um, num momento crucial da História. E explica: «Perguntar-te-ás: Mas, como é possível? As minhas energias vão-se exaurindo e não creio que possa ainda fazer muito. Como posso começar a comportar-me de maneira diferente, quando o hábito se tornou a regra da minha existência? Como posso dedicar-me a quem é mais pobre, se já tenho tantas preocupações com a minha família? Como posso alongar o meu olhar, se não me é permitido sequer sair da residência onde vivo? Não é um fardo já demasiado pesado a minha solidão?» E Francisco assegura que tudo isso é possível «abrindo o próprio coração à obra do Espírito Santo, que sopra onde quer. Com a liberdade que tem, o Espírito Santo move-Se por toda a parte e faz aquilo que quer».

Três pilares para a nova construção

O Santo Padre lembra, mais uma vez, que da actual «crise que o mundo atravessa, não sairemos iguais: sairemos melhores ou piores», «que ninguém se salva sozinho», pois todos somos irmãos e devedores uns dos outros. Nesta perspectiva, afirma o papa, todos são necessários «para se construir, na fraternidade e na amizade social, o mundo de amanhã: aquele em que viveremos – nós com os nossos filhos e netos –, quando se aplacar a tempestade. Todos devemos ser “parte activa na reabilitação e apoio das sociedades feridas” (Fratelli tutti, 77)».

 

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(© 123 RF) 

Entre os vários pilares que deverão sustentar esta nova construção, afirma o papa, há três em que os idosos têm um papel fundamental: os sonhos, a memória e a oração.

Ao falar sobre o primeiro pilar, os sonhos, o pontífice diz: «O futuro do mundo está na aliança entre os jovens e os idosos. Quem, senão os jovens, pode agarrar os sonhos dos idosos e levá-los por diante? Mas, para isso, é necessário continuar a sonhar: nos nossos sonhos de justiça, de paz, de solidariedade reside a possibilidade de os nossos jovens terem novas visões e, juntos, construirmos o futuro. É preciso que testemunhes, também tu, a possibilidade de se sair renovado duma experiência dolorosa.»

Francisco menciona, em seguida, o cruzamento entre sonhos e memória: «Recordar é uma missão verdadeira e própria de cada idoso: conservar na memória e levar a memória aos outros.» E depois de recordar a figura de Edith Bruck – sobrevivente do Holocausto que afirmou «mesmo que seja para iluminar uma só consciência, vale a pena a fadiga de manter a recordação do que foi... para mim recordar é viver» –, o papa invoca a sua experiência pessoal e encoraja os idosos: «Penso também nos meus avós e naqueles de vós que tiveram de emigrar e sabem quanto custa deixar a própria casa, como fazem muitos ainda hoje à procura dum futuro. Talvez tenhamos algum deles ao nosso lado a cuidar de nós. Esta memória pode ajudar a construir um mundo mais humano, mais acolhedor. Mas, sem a memória, não se pode construir; sem alicerces, tu nunca construirás uma casa. Nunca. E os alicerces da vida estão na memória.»

O último pilar é a oração. «A tua oração é um recurso preciosíssimo: é um pulmão de que não se podem privar a Igreja e o mundo», realça o papa. «Sobretudo neste tempo tão difícil para a Humanidade em que estamos – todos na mesma barca – a atravessar o mar tempestuoso da pandemia, a tua intercessão pelo mundo e pela Igreja não é vã, mas indica a todos a serena confiança de um porto seguro.» 

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