Certamente há músicas que nos marcam a vida para sempre. Escutá-las faz-nos reviver situações, lugares, pessoas e emoções que nos marcam a vida para sempre. Em cada Jornada Mundial da Juventude (JMJ) há um hino oficial. É uma música que marca cada encontro de jovens de todo o mundo com o papa. Mas, nesse hino, para quem já participou em JMJ anteriores, é uma música que marcou as suas vidas para sempre e ao voltar a ouvi-lo é quase como viver dias indescritíveis. É esse o poder imenso desta linguagem para aquilo que chamamos de Nova Evangelização.
O Hino da JMJ 23: Há Pressa no Ar!
O P.e João Paulo Vaz, sacerdote diocesano da Diocese de Coimbra, é o autor da letra do hino oficial da JMJ Lisboa 2023, que tem o título Há Pressa no Ar! O hino foi escolhido através de um concurso, o que aconteceu pela primeira vez. Em edições anteriores pedia-se sempre a algum artista ou grupo musical para compor o hino oficial.
No programa O Cantinho da Música da Rádio JIM Online (que podes ouvir em http://radio.jim.pt) em que o P.e João Paulo partilhou o seu testemunho vocacional, ele referia a importância que um hino tem para a vida de um jovem que participa numa JMJ. Ele dizia: «Eu participei em seis JMJ e os hinos foram sempre um marco na história e na vida de quem participou. Fica quase como um memorial de cada JMJ. O facto de o hino escolhido ter sido o que apresentamos junto com a Banda da Paróquia e poder tornar-se nesse memorial para milhões de jovens do mundo inteiro e podermos participar e dar de nós desta forma, mexeu muito comigo!»
Uns meses antes, o autor, em declarações à Ecclesia, sobre a mesma questão da importância que um hino tem para a nossa vida e também numa JMJ, dizia: «O hino é uma marca importante em cada edição, a música tem o condão de marcar memórias: se ouço uma música, lembro-me do momento que marcou, traz a memória do coração, as recordações e vivências, sendo um hino da JMJ e toda a envolvência, com toda a preparação que é um crescendo, é acompanhado sempre pelo hino.» O autor do hino da JMJ 23 refere ainda que sempre que ouve o hino de uma das seis edições em que participou vem-lhe à memória e ao coração toda a caminhada, todo o «processo e aventura que é de crescimento e fica para a vida».
O hino da fraternidade e comunhão eclesial
O hino da JMJ torna real o sonho da fraternidade universal a que o Papa Francisco tanto apela. A JMJ é sem dúvida o encontro de povos e de uma comunhão que só aqui se vive neste evento juvenil mundial.
Ainda na nossa conversa no programa da rádio e a propósito desta dimensão universal e fraterna do hino, o P.e João Paulo foi ainda acrescentando que, «uma vez que o hino é aceite para ser o hino oficial de uma JMJ, deixou de ser meu ou do Pedro ou da Banda da Paróquia: passa a ser o hino escrito e composto pelos jovens do mundo inteiro e são os jovens que o cantam e o vivem. Acabou! Já não há sequer questões de direitos de autor. O hino da JMJ é o hino deste corpo, é um hino da Igreja! Já não é o meu hino, já não é a minha letra, já não é a minha música! Não! Já não há nenhum protagonismo! É nosso e por isso é de todos. É um legado que se faz herança de todos».
Neste sentido, explicou que o hino é uma expressão daquilo que é a comunhão eclesial nesta vivência como é a da JMJ: «Neste momento, quase que é estranho eu dizer que este é o meu hino. Agora é estranho dizer até que este é o hino da JMJ cujo autor da letra é o P.e João Paulo Vaz e a música é do Pedro… é muito estranho isso!»
Comprovam estas palavras do P.e João Paulo o facto de que agora o hino é cantado efectivamente por todos e ainda por cima em variadíssimas línguas e estilos musicais. O hino já foi traduzido para outras línguas, por exemplo, espanhol, francês e inglês, chinês, vietnamita, polaco e tailandês, não esquecendo a língua gestual – esta também uma inovação da organização da JMJ Lisboa 2023! Também os estilos musicais das várias versões do hino abundam desde o pop-rock, ao rap e ao electrónico.
Uma outra expressão desta universalidade e fraternidade é o facto de que este hino agora irá ser cantado oficialmente não pelos seus autores, mas pelo coro JMJ Lisboa 2023 que está a ser preparado para cantar nos eventos centrais da JMJ. E este coro é composto por jovens de todas as dioceses de Portugal e alguns do estrangeiro. Por isso, o hino é, sem qualquer dúvida, o exemplo daquilo que a Igreja é chamada a ser: universal ultrapassando todas as fronteiras, fraterna e inclusiva!
Como se compõe o hino da JMJ 23?
Na conversa que a Rádio JIM Online teve com o P.e João Paulo, tivemos a oportunidade de poder ficar a conhecer como todo o processo de composição da letra do hino aconteceu. «A génese desta letra, porque tomei isto como um desafio muito grande, está no caminho percorrido nestes anos desde a última JMJ no Panamá em 2019. Os temas da JMJ 2019 com o “Sim de Maria” e o de 2023 “Levantou-se apressadamente” são dois temas marianos. Depois os temas das JMJ intermédias celebradas a nível diocesano, de 2020 e 2021 indicaram-nos um caminho. No primeiro foi “Jovem, levanta-te e vai!”; o segundo foi “Jovem, eu te constituo testemunha do que viste e ouviste!”. Portanto, além do tema central que era Maria, tínhamos o “levanta-te” e o “sim de Maria”. Aí eu logo disse: “Está aqui o caminho para este hino!”»
Que mensagem encerra o hino «Há Pressa no Ar?»
O autor do hino da JMJ explica: «Nas quatro estrofes do hino estão os quatro temas: Panamá, os dois intermédios e o da JMJ 23. Portanto, tudo isto ficou aqui como uma catequese a partir dos temas das JMJ anteriores.»
Em 2019, o tema da JMJ foi «Faça-se em mim segundo a Tua Palavra!». O hino da JMJ 23 convida logo na primeira estrofe a «ensaiar um sim» com Maria. Um sim para «servir e fazer a vontade do Pai» querendo «dar, estar, dispostos ao sim» para imitar Maria.
Em 2020, por seu lado, o tema convidava o jovem a «levantar-se e partir», partindo assim à descoberta, vir, ver e testemunhar o que cada um vê. É um convite a vir com os outros e «olhar para lá daquilo que fazes e que não te deixa sorrir e amar» para assim poder «partir sem medo nesta missão».
Em 2021, com o tema «Jovem, eu te constituo testemunha do que viste e ouviste», o hino da JMJ 23 afirma que foi Maria a primeira a testemunhar e a acolher «a grande surpresa da vida sem fim». E assim como ela, sou impelido a «não poder calar, não poder deixar de dizer: “Meu Senhor, conta comigo, não mais calarei”». Uma vez que experimentamos o amor incondicional de Deus por cada um e cada uma de nós, não podemos ficar mais parados – o convite a ser missionário do amor de Deus a todos com quem me cruzo no meu caminho, mas também a partir para longe e anunciar este amor a quem ainda não o conheceu. Foi de resto essa a experiência de Maria que «partiu apressadamente a anunciar à sua prima Isabel a grande notícia que acabara de receber da parte de Deus!» sendo este o tema principal do hino da JMJ 23.
Sem dúvida que a música e a arte são um dos meios e linguagens mais eficientes e eficazes para hoje fazer chegar a Boa Notícia a todos, mas sobretudo aos mais jovens. Uma das linguagens novas da evangelização. Que todos aprendamos a «fazer a vontade do Pai» partindo apressadamente e cheios de felicidade e entusiasmo porque, como Maria, acreditamos!
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