Prevê-se que o ano de 2024 seja o ponto de viragem no aquecimento global com a temperatura média do planeta a exceder 1,5 ºC. Parece pouco, mas imaginem, todo o ano, o vosso corpo com uma temperatura de 38,5 ºC. Seria viver com uma febre permanente. Um planeta aguenta e adapta-se, mas nós não se nada fizermos.
Um ponto de viragem pode ser uma fatalidade ou oportunidade. Tudo depende da nossa reacção depois de tomarmos consciência do futuro próximo que teremos dentro e fora das nossas casas. Os mais pequenos, pobres e frágeis serão sempre os mais afectados. Será que um ponto de viragem climático com efeitos globais pode ser enfrentado com coisas simples locais? Que ponto de viragem poderá gerar uma onda cultural que torne a vida neste planeta mais suportável?
No seu livro A Chave do Sucesso, o jornalista Malcolm Gladwell identifica três factores essenciais se quisermos criar um ponto de viragem.
A Lei dos Poucos: Gladwell sugere que um grupo selectivo de pessoas («os poucos») tem uma influência significativa na disseminação de ideias, tendências ou comportamentos. Ele categoriza estes indivíduos influentes em três tipos: conectores (aqueles com um vasto círculo social), peritos (especialistas em informações que gostam de partilhar os seus conhecimentos) e vendedores (indivíduos carismáticos que conseguem persuadir os outros com o seu entusiasmo contagiante).
O Factor de Aderência: Este princípio sustenta que o conteúdo específico de uma mensagem que se torne memorável (aderente) pode causar uma mudança de comportamento. Na essência, «aderência» refere-se a quão eficaz uma mensagem ou ideia causa uma impressão que leva à mudança ou resultado desejado.
O Poder do Contexto: Gladwell argumenta que o comportamento humano é fortemente influenciado pelo ambiente que o rodeia ou contexto. Pequenas mudanças no ambiente podem ser o empurrão necessário para atingir um ponto de viragem que cria uma nova tendência.
Quem já leu pelo menos duas vezes a encíclica Laudato Si’? Talvez um grupo selectivo do qual todos podemos fazer parte. Quem aderiu à proposta Laudato Si’ do Papa Francisco? Ainda vamos a tempo. Quem deixou que o seu comportamento gerasse pequenas mudanças Laudato Si’ no seu ambiente?
Gladwell refere os conectores, peritos e vendedores como as categorias dos mais influentes, mas creio haver uma categoria maior do que essas, independente da amplitude da nossa rede social, campo de especialização e capacidade de persuasão, a categoria dos comunicadores. Um comunicador não nasce do talento, mas do treino. E o treino de um comunicador acontece pela experiência que este faz daquilo que comunica. O conteúdo da sua mensagem não é uma teoria, ou somente prática, mas um testemunho. E do testemunho de uma vida Laudato Si’ faz parte, não só o resultado dos nossos actos (prática), mas também as razões que os orientaram (teoria). A sobrevivência do planeta depende dos comunicadores mais aptos. Ser comunicador Laudato Si’ é tornar-se num ponto de viragem da história do planeta.
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