Opinião
18 setembro 2023

A pressa

Tempo de leitura: 4 min
Que a pressa que nos anima seja como a de Maria e do seu Filho, para levar as palavras e os gestos do amor de Deus o mais longe possível.
P. Fernando Domingues
Missionário Comboniano
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(© 123RF)

 

A pressa sempre me pareceu mais um defeito do que uma qualidade. O certo é que, neste Verão, sobretudo pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que todos vivemos – a cada um terá tocado de maneira diferente – a palavra «pressa» esteve muito presente sobretudo na boca dos jovens que olharam para Maria como Nossa Senhora da Visitação, aquela que «se levantou apressadamente e partiu…» para ir ajudar Isabel, a sua prima.

Se a pressa de Maria se tornou desafio para muitos e muitos milhares de jovens, pode muito bem ser um desafio positivo para todos. Alguém notou um dia, numa reunião, que Maria partiu «à pressa», mas não ansiosa! Não era aflição ou falta de confiança a emoção que acelerava os seus passos, era a prontidão a responder sem demora à necessidade de quem precisava dela, mesmo se, para isso, ela tinha de partir e viajar para longe.

A Bíblia apresenta-nos um bom número de pessoas com pressa! Basta pensar nos Hebreus que, na primeira noite de Páscoa, comem à pressa o cordeiro assado, o pão cozido à pressa, sem fermento, e as ervas amargas. Não há tempo a perder quando é Deus quem nos abre o caminho que leva da escravidão (do Egipto) à terra da liberdade (Ex 12,10-13).

Quem está na aflição também pede um pouco de pressa a Deus: «Responde-me depressa, Senhor, pois o meu alento está no fim!» (Sl 143,7).

Mas a pressa que mais se parece com a de Maria é a do seu filho Jesus: «Eu vim trazer fogo à terra, e como desejaria que já estivesse aceso!» (Lc 12,49). É o fogo do Espírito Santo, que ele fará descer sobre os seus discípulos no Pentecostes, depois de ter dado a vida por todos na cruz. Jesus tem pressa que o fogo do Espírito se espalhe por todo o lado: abrase os corações com o amor de Deus, queime em nós as forças do mal, ilumine as noites do ódio e mostre caminhos de fraternidade nova para todos.

Jesus tem pressa, e quer comunicar a sua pressa a todos os discípulos que ele envia, ontem como hoje: «Ide, envio-vos… Não leveis bolsa nem alforge [a muita bagagem torna o caminho mais lento!] nem saudeis ninguém pelo caminho!» (Lc 10,4). Nada de demoras, mesmo se é para receber de amigos apoios e elogios. A mensagem de que o Reino de Deus está agora presente tem de ter prioridade absoluta. O fogo do Espírito Santo não tem espera, pede para ser comunicado sem demora, em primeiro lugar aos «distantes», aos que vivem nas periferias humanas da pobreza, da solidão, da violência. E por isso Jesus acrescenta logo: «Onde entrardes dizei: “a paz esteja convosco!”».

Com mais ou menos pressa, Setembro é o mês de muitos inícios, de partidas para novos percursos, o novo ano lectivo, o ano pastoral nas paróquias, grupos e movimentos. Faz-nos bem pensar que temos à nossa frente oportunidades novas para nos levantarmos e partir apressadamente.

O hino da JMJ canta: «Há pressa no ar» e na oração proclamamos «iremos apressadamente, sem distracção nem demora». Então, todos queremos acelerar, e que a pressa que nos anima seja como a de Maria e do seu Filho, para levar as palavras e os gestos do amor de Deus o mais longe possível, como diz o próprio Jesus, «até aos confins da Terra!» (Actos dos Apóstolos, 1,8). 

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