Opinião
24 outubro 2023

Caminho

Tempo de leitura: 4 min
Jesus caminha connosco para acender nos nossos corações a chama que nos faz caminhar ao encontro dos outros.
P. Fernando Domingues
Missionário Comboniano
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(© 123RF)

 

O Papa Francisco gosta de lembrar que ser cristão é, antes de mais, fazer da própria vida um caminho. Nesse caminho, pode haver momentos de «silêncio e solidão», mas nunca será um caminho solitário. Sempre teremos alguém caminhando ao nosso lado.

Na mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano, Francisco oferece-nos uma linda meditação sobre o caminho dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24). Nota que aqueles dois discípulos, amargurados pela maneira como Jesus, seu mestre, tinha morrido na sexta-feira anterior, numa cruz, não caminhavam isolados… caminhavam juntos, e iam falando, para partilhar a dor e a desilusão que sentiam. Diz-nos São Lucas que, «no falar deles», Jesus se aproximou – desconhecido – e caminhou junto, escutando a triste narração do que eles tinham para contar sobre a semana que tinham acabado de viver: «Jesus era um homem que tinha feito o bem, com grande força de palavras e obras, mas os chefes tinham-no feito condenar, e tudo acabou naquela cruz de há três dias…»

Conforme caminham juntos, escutando Jesus que lhes mostra como ao meditar as Escrituras poderão compreender a acção de Deus em tudo aquilo, sentem no coração um «fogo inexplicável». Como diriam mais tarde, «os nossos corações ardiam, quando ele nos explicava as Escrituras». Só vão reconhecer o «terceiro peregrino» quando ele se senta com eles para a ceia e repete, perante os seus olhos surpreendidos, os gestos que tinha feito à mesa com eles, «na Ceia da quinta-feira»: tomou o pão, deu graças, partiu-o e deu-lho… Então, abriram-se-lhes os olhos e reconheceram Jesus ressuscitado; e Ele desapareceu da sua vista: já não precisavam de O ver pois agora sabiam que Ele caminhava sempre com eles.

Tal era a alegria que experimentavam, que nem se lembraram do cansaço do dia a palmilhar caminho desde que tinham saído de manhã cedo para a viagem, e deitaram de novo pés ao caminho para ir anunciar aos que tinham ficado em Jerusalém que, caminhando, tinham encontrado Jesus. Ele tinha ressuscitado, estava vivo.

A primeira coisa que fazem, o primeiro «acto de fé em Cristo ressuscitado» é pôr-se a caminho para levar a Boa Notícia (evangelho) aos que ainda não sabiam. Para eles, o verdadeiro início da «vida de fé» não foi uma declaração, ou assinar um documento para serem oficialmente membros de uma organização… foi pôr-se a caminho para anunciar Cristo aos outros. É nesse «caminhar» que começa a vida cristã, e só daí pode crescer tudo o resto que chamamos «vida da Igreja». Se falta essa experiência, andamos a «construir sobre areia».

A maneira concreta que cada um dos discípulos de Jesus escolhe viver a vida como «caminho de Emaús» varia muito. Há quem, como os missionários ad gentes (aos povos) partem para países longínquos, aprendem novas línguas, inserem-se na cultura de outros povos... E há quem se sente chamado a caminhar ao encontro dos vizinhos, dos colegas de universidade, de trabalho… Mas o caminho é sempre o mesmo: Jesus que caminha connosco para acender nos nossos corações a chama que nos faz caminhar ao encontro dos outros. 

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