O Papa Francisco publicou, no passado mês de Outubro, duas exortações apostólicas. A primeira, assinada no dia de S. Francisco de Assis, chama-se Laudate Deum («Louvai a Deus») e nela o pontífice aborda a questão da crise climática e convida-nos à responsabilidade no cuidado da Casa Comum (ver página 9, 11 e 30-31). A segunda, intitulada C’est la Confiance («É a Confiança»), é sobre a vida e o legado espiritual de Santa Teresinha do Menino Jesus que, lembra o papa, «é uma das santas mais conhecidas e amadas em todo o mundo», mesmo pelos não-cristãos, e é reconhecida pela Unesco entre as figuras mais significativas para a Humanidade contemporânea.
Este breve texto do magistério de Francisco, escrito por ocasião dos 150 anos do nascimento de Teresinha (Alençon, França, 2 de Janeiro de 1873), convida os baptizados a imitar a religiosa francesa na redescoberta do «essencial» da fé e da centralidade da confiança e do amor. Nesse sentido, o papa escolheu como título da exortação um trecho de uma carta escrita por Teresinha a uma irmã da sua congregação: «Só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor.» Como indica Francisco, «é a confiança que nos conduz ao Amor e assim nos liberta do temor; é a confiança que nos ajuda a desviar o olhar de nós mesmos; é a confiança que nos permite pôr-nos nas mãos de Deus aquilo que só Ele pode fazer. Isto deixa-nos uma imensa torrente de amor e de energias disponíveis para procurar o bem dos irmãos».
Esse caminho da confiança e do amor, conhecido também como «caminho da infância espiritual», que Teresa percorreu humilde e admiravelmente, não procura fechar-nos numa ideia individualista e elitista de santidade, «mais ascética do que mística». Pelo contrário, esse encontro com o amor infinito de Deus liberta da auto-referencialidade, abre os discípulos de Jesus aos irmãos e irmãs e impele à missão universal. Teresinha vivia numa cela, mas tinha um coração aberto ao mundo, que vibrava com o anúncio do Evangelho, e por essa vocação missionária foi proclamada padroeira das missões. Ela «partilhava o amor misericordioso do Pai pelo filho pecador e o do Bom Pastor pelas ovelhas perdidas, distantes, feridas. Ela, que vivia a vida como um presente, com simplicidade e abandono nas mãos de Deus, procurava encontrar a sua vocação eclesial com afã, descobriu-a com alegria, como escreveu: «No Coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor!» Uma afirmação que sublinha que «o centro da moral cristã é a caridade, que é a resposta ao amor incondicional da Trindade».
A vida de Teresinha do Menino Jesus é um paradigma de vida cristã para hoje, pois «num momento de complexidade, ela pode ajudar-nos a redescobrir a simplicidade, o primado absoluto do amor, da confiança e do abandono, superando uma lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e preceitos e congela a alegria do Evangelho». A jovem carmelita, conquistada pela atracção de Jesus Cristo e do Evangelho, é também mestra da evangelização, uma inspiração para a Igreja em saída. Teresinha dizia que o bem que fazemos é como «uma chuva de rosas»; hoje, ela intercede pela Igreja, para que sempre faça «resplandecer a cor, o perfume, a alegria do Evangelho».
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