Opinião
09 novembro 2023

Laudate Deum – pela acção climática

Tempo de leitura: 4 min
Para a Igreja Católica, a exortação apostólica Laudate Deum é um lembrete à acção.
Francisco Ferreira
Associação ZERO e Professor no CENSE/FCT-NOVA
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(© 123RF)

 

A cada dia que passa, a crise climática agrava-se, decorrente de estarmos principalmente a emitir gases com efeito de estufa resultantes da queima de combustíveis fósseis que estão a levar a um aquecimento global e às consequentes alterações climáticas. Em Maio de 2015, na carta encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco já tinha destacado este como um dos problemas-chave onde se teriam de fazer progressos, algo que viria a acontecer, com a aprovação do Acordo de Paris no quadro das Nações Unidas. Agora, a exortação apostólica Laudate Deum, que especifica e completa a encíclica de 2015, fixa-se praticamente no clima, o mais grave da crise ambiental. Há poucas semanas, o secretário-geral António Guterres promoveu uma Cimeira de Ambição Climática, preparatória da Conferência anual da Convenção-Quadro sobre Alterações Climáticas que terá lugar no início de Dezembro no Dubai – a COP28. Foi neste tempo intermédio, em que a exortação foi publicada, como que um impulso extra para os políticos assumirem as suas responsabilidades.

Na Laudate Deum, a primeira ideia é a ligação dos impactos das alterações climáticas na vida de todos, principalmente dos mais frágeis – na saúde, no emprego, na habitação, nas migrações. Isto é, as consequências de um clima em mudança põem em causa a dignidade humana de muitos. Recorrendo à ciência, mostra as evidências mais significativas dos principais relatórios, mostra como vivemos todos numa casa comum, apelando a olhar à volta porque é impossível ignorar as evidências. A ligação entre o uso excessivo de recursos de um planeta encarado como supostamente ilimitado e a ideologia obsessiva pelo poder acabam por separar as pessoas da Natureza. Um mundo onde o dinheiro tudo paga e as relações entre as pessoas são de menor importância que o lucro de alguns. Temos de pensar nas gerações futuras e naquilo que é verdadeiramente o nosso papel como humanidade – qual o sentido da vida, do trabalho e do compromisso?

Quanto às relações internacionais, nomeadamente tendo por base o insucesso dos protocolos e acordos climáticos, há simultaneamente o reconhecimento de um multilateralismo que requer um novo equilíbrio que reconheça a relevância das potências emergentes com um quadro de cooperação mais eficaz. Os combustíveis fósseis e a incapacidade de gerar alternativas energéticas renováveis são os grandes obstáculos a vencer. Por último, o Papa Francisco reconhece a dificuldade da próxima reunião no Dubai, num ambiente hostil a decisões contrárias ao petróleo, fornecendo uma receita para as negociações – serem eficientes, vinculadoras e monitorizáveis, onde o futuro seja posto acima dos países e empresas.

Para a Igreja Católica, esta exortação é um lembrete à acção, oito anos depois da encíclica e três anos depois do ano Laudato Si’, para que não se esqueça o muito por fazer, por mudar, da escala local à global. Mesmo que por vezes excessivos, o papa reconhece a necessidade do abanão de muitos activistas numa sociedade que tem de acordar e agir. Passemos também nós à acção.

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