Uma professora de Psicologia ensinou-me que quando somos crianças temos muitos amigos, mas à medida que crescemos não só se torna mais difícil fazer amigos como vamos perdendo os amigos que nos rodeiam. Eu acho que tudo isto nasce da nossa vontade em compreender e ser compreendidos. A compreensão verdadeira é utopia porque seria necessário alguém viver por mim, seria necessário alguém percorrer os meus passos para reconhecer onde me doem os calos e onde habitam as cicatrizes.
Nós, adultos, chegamos a uma fase em que somos exigentes demais nas amizades. Já não chega amar, tem de ter sentido de humor. Não chega o sentido de humor, tem de se rir das mesmas coisas que nós e em última instância precisamos que os nossos valores coincidam, que nos oiça e que nos compreenda. Damos por nós com uma lista interminável de exigências quando aquilo que todos queremos é amar e ser amados nas nossas diferenças e particularidades. Então se todos estamos na mesma página porque temos mais dificuldade em amar-nos e ser simplesmente amigos uns dos outros?
Uma vez conheci um senhor que no alto dos seus quarenta e tal anos era a maior criança que conhecia. Tinha alma de criança. Trabalhámos juntos arduamente o dia todo e ainda que cansado a primeira e única imagem que tenho dele é o seu sorriso e o seu abraço. Rimos nesse dia. Sempre que o encontrava seja para trabalhar ou para conversar deixava-me com um sorriso e um abraço.
Precisamos de nos deixar tocar pelo outro, mas também precisamos de atrever-nos a tocar o outro. Precisamos de ter a ousadia de levar um sorriso àquele que encontramos, que cruza o nosso caminho ou que trabalha connosco. Precisamos de ousar abraçá-lo e perguntar-lhe como está. Precisamos de cuidar-nos mais uns aos outros sem ter motivo. Precisamos de amar-nos sem razão. Precisamos de querer-nos bem sem sabermos porquê, só porque sim. Precisamos de, tal como o senhor que um dia conheci, ter alma de criança e voltar ao jardim-de-infância onde com um sorriso e um abraço já fazíamos um amigo novo. O que mudou para agora já não chegar? Será que faz mesmo falta algo mais para ser amigo de alguém que um sorriso e um abraço?
Um sorriso e um abraço afinal de contas mudam vidas. Mudaram a minha. Tenho a certeza de que o sorriso e o abraço de alguém também já mudaram a tua vida em algum momento. Então talvez ser missionário e querer mudar o mundo seja apenas sorrir e abraçar quem nos rodeia. E talvez assim estejamos a fazer o mais importante, a seguir o mandamento do Mestre de Nazaré: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei». Assim se salva o mundo pessoa a pessoa. Salva alguém hoje. Um dia alguém te salvará a ti.
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