Neste mês de Dezembro celebramos a boa notícia da festa do Natal, o mistério admirável da «Palavra que se fez carne e se marginalizou para trazer a salvação aos marginalizados» (Papa Francisco, homilia em Santa Marta, 19 de Dezembro de 2014). Ao fazer memória deste acontecimento singular que mudou a História, recordamos o peregrinar de Maria e José desde Nazaré até Belém e a procura angustiosa por um albergue para poderem hospedar-se ante o nascimento iminente do Menino Jesus. Sabemos pelo relato evangélico que Maria teve de dar à luz num curral, rodeada de animais, e que envolveu o recém-nascido em panos e o deitou numa manjedoura, «porque não havia lugar para eles na hospedaria» (cf. Lc. 2,7). Jesus nasceu em simplicidade extrema, em humilde pobreza, mas abraçado pelo calor amoroso da sua família e dos pobres que vieram vê-Lo e adorá-Lo. No entanto, logo depois do parto, a Sagrada Família, que fez a Viagem até Belém, terá de partir, em fuga, para o Egipto fugindo rapidamente da violenta perseguição de Herodes.
Como José, Maria e Jesus, milhões de pessoas são obrigadas a deixar o seu lar e a sua terra natal, procurando refúgio ou protecção noutras regiões do próprio país ou do planeta (o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados revelava que em Maio deste ano o número de pessoas deslocadas atingia os 110 milhões, dos quais 35,3 milhões eram refugiados, ou seja, pessoas que atravessaram uma fronteira internacional em busca de segurança). Da Ucrânia, Síria, Médio Oriente, do Leste da República Democrática do Congo, de Nagorno-Karabakh, do Sudão, do Paquistão e Afeganistão (ver páginas 32-43) e de muitas outras partes do mundo, milhares de pessoas fogem todos os dias de bombardeamentos indiscriminados, de guerras fratricidas ou de violência sistemática. Milhares de mulheres, crianças e homens fazem viagens arriscadas, muitas vezes enfrentando violência, exploração, discriminação e abuso (ver páginas 22-25), para escapar da pobreza, das crises causadas pelas alterações climáticas, da perseguição religiosa ou política, das sistemáticas violações dos direitos humanos. Todos perseguem o sonho de uma vida melhor, com paz e mais dignidade.
A boa notícia do nascimento de Jesus permite-nos renovar a esperança e encontrar sinais de vida no mundo. Como refere o Papa Francisco na carta apostólica Admirabile Signum (sinal admirável), «nascendo no presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos, como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado». É com essa alegria do evangelho do Natal, que tantos missionários procuram testemunhar a Luz desse menino que nasceu indefeso, manso e humilde em Belém e colaborar na construção de um mundo melhor, mais justo e fraterno, seja em São Tomé e Príncipe ou no Quénia.
Votos de um bom e santo Natal!
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