Este é um refrão cantado em muitas das celebrações em que já participámos: «Somos um povo que caminha e juntos caminhando queremos alcançar outra cidade onde há justiça, sem penas nem tristezas, cidade onde há paz.» É um cântico rico de mensagem sinodal. Na verdade, a Igreja não é mais que o Povo de Deus, assim a definiram os participantes no Concílio Ecuménico Vaticano II (cf. Lumen Gentium, 9). Apesar de termos missões e responsabilidades diferentes (cf. Lumen Gentium, 32) não devia haver distinção, do tipo classicista, na Igreja, pois todos nós estamos enraizados e irmanados no mesmo e único baptismo. Com efeito, esta ideia de «povo que caminha» lado a lado ainda não está entranhada na Igreja e tem contribuído, e muito, para a desresponsabilização dos cristãos-leigos e para dirigir mais o enfoque na sacralização dos cristãos-ministros ordenados do que nos ritos dos sacramentos a que presidem.
O Papa Francisco tem chamado a atenção, desde o início do seu pontificado, para os riscos do clericalismo, sem esquecer o que se infiltra na militância de alguns leigos e que o torna ainda mais pernicioso. Enquanto se mantiver o actual modelo hierárquico, nunca podemos caminhar juntos e muito menos lado a lado. Sinto, sem querer ser velho do Restelo, que a desclericalização da Igreja vai ser um processo muito moroso e que se tem falado muito da necessidade urgente de uma Igreja mais sinodal, mas, apesar dos caminhos já andados, e dos novos alicerces abertos ao longo dos mesmos, parece-me que têm sido mais os caminhos percorridos do que as bases lançadas para que nas nossas dioceses e comunidades cristãs sintamos que somos, verdadeiramente, um povo que junto caminha, lado a lado, com a única finalidade de instaurar, neste mundo e, desde já, sinais do Reino de Deus.
Para isto nos chama a atenção o Papa Francisco (na foto), na homilia da Eucaristia conclusiva da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, ao afirmar: «Nós, discípulos de Jesus, queremos levar ao mundo outro fermento, o do Evangelho: Deus no primeiro lugar e, juntamente com Ele, os seus preferidos. Esta é a Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama, sem nunca exigir antes um atestado de “boa conduta”, as acolhe, serve, ama, perdoa. Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia.» Só uma Igreja vivendo desta maneira, poderá dar o seu contributo para a construção de uma «política melhor», aproveitando as orientações de Francisco na encíclica Fratelli Tutti (154-197), pois só assim se alcançará a Polis (cidade) onde pode não haver tantas penas e tristezas, mas mais justiça e paz.
Decerto que muitos esperavam mais desta primeira sessão do sínodo dedicada ao tema Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão. Aproveitemos o tempo que medeia até à realização da segunda sessão – em Outubro do próximo ano – para se iniciarem ou reforçarem as experiências de sinodalidade e que se criem espaços de oração para que seja o Espírito Santo a verdadeira bússola de todo este complexo caminho.
|