Rumo à Páscoa, celebração central da fé cristã, iniciamos a Quaresma no dia 14 de Fevereiro. Uma vez mais, somos convidados a realizar um caminho de conversão, que nos permita superar as nossas faltas de fé e as nossas resistências em seguir Jesus mais radicalmente. Conduzidos pelo Espírito, somos desafiados a fazer o caminho de Jesus tanto no deserto, como no Monte Tabor e, assim, viver intensamente a missão. Como refere o Papa Francisco na mensagem da Quaresma de 2023: «Para aprofundar o nosso conhecimento do Mestre, é preciso deixar-se conduzir por Ele à parte e ao alto, rompendo com a mediocridade e as vaidades. É preciso pôr-se a caminho, um caminho em subida, que requer esforço, sacrifício e concentração, como uma excursão na montanha.»
A Quaresma é um tempo privilegiado para escutar a voz de Jesus, que nos fala mediante a Palavra de Deus, os sinais dos tempos e o clamor dos irmãos, sobretudo os mais pobres e necessitados, que são os protagonistas do caminho da Igreja – nesta perspectiva, apresentamos nesta edição o testemunho de serviço generoso e proximidade do padre Vincenzo Bordo, que desenvolve a sua missão com os mais marginalizados da periferia de Seul, na Coreia do Sul (páginas 46-49), e da irmã Carla Frey Bamberg, que apoia os migrantes em Luanda, Angola (páginas 38-43).
Este ano, vivemos a Quaresma entre as duas sessões sinodais (Outubro de 2023 e Outubro de 2024) e o desafio é reflectir e aprofundar o relatório de síntese fruto da primeira sessão, documento que contém pistas de reflexão (convergências, questões a aprofundar e propostas). Para as Igrejas locais foi proposta uma pergunta orientadora da reflexão: como ser Igreja sinodal em missão? O trabalho que estamos a desenvolver e que continuará durante os próximos meses (em Portugal cada diocese deve enviar à Conferência Episcopal Portuguesa o fruto da sua reflexão até final de Março) é realizado seguindo a dinâmica sinodal de comunhão, missão e participação, como refere a Carta ao Povo de Deus, publicada no final da primeira sessão do sínodo: «Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em Outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra sínodo.» E, acrescenta o texto, «para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres. Isto exige, da sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor». [Nesta linha, foi lançada no país uma plataforma digital (www.redesinodal.pt), cujo objectivo é «centralizar o essencial da informação» sobre o processo sinodal a decorrer nas diferentes dioceses, movimentos, comunidades e grupos de norte a sul do País.]
Estamos chamados a percorrer com entusiasmo e esperança estes dois caminhos – quaresmal e sinodal – que têm como meta, como lembra o Papa Francisco, uma transfiguração pessoal e eclesial. «Uma transformação que, em ambos os casos, encontra o seu modelo na de Jesus e realiza-se pela graça do seu mistério pascal». Um itinerário de conversão que nos permitirá ser «artesãos de sinodalidade na vida ordinária das nossas comunidades» e entusiastas discípulos missionários.
|