Com o lema «Das feridas à vida nova», os Franciscanos deram início no passado dia 5 de Janeiro às celebrações do 8.º Centenário dos Estigmas de São Francisco de Assis.
Duas realidades acompanharam a vida de S. Francisco: «o doce e o amargo», expressão usada pelo próprio, no seu Testamento espiritual, ao relatar o encontro com o leproso no início da sua conversão. São anos amargos, que Francisco vive, de 1220 a 1224 no interior da fraternidade.
Em 1223, com a autoridade da sua coerência de vida, Francisco escreve o texto da Regra que viria a ser aprovada com bula papal a 29 de Novembro do mesmo ano. Estes tempos difíceis despertam em Francisco um grande desejo de silêncio e de contemplação.
Em 1224, o Santo de Assis sobe ao monte Alverne, e por ocasião da festa da Exaltação da Santa Cruz, estando ele a fazer uma Quaresma em honra de S. Miguel Arcanjo, mergulhado em profunda oração e com o desejo de sentir no seu próprio corpo as dores do Crucificado na hora da Sua Paixão, vê pairar sobre ele a figura de um serafim de seis asas, que o inunda de uma dor profunda e ao mesmo tempo de uma inefável alegria.
Sem perceber com a inteligência as razões daquela visão, Francisco sentiu uma ardente alegria no coração, enquanto no seu corpo começaram a aparecer os sinais dos cravos de Jesus Crucificado. É também por isto que S. Francisco foi intitulado de Alter Christus (um outro Cristo).
Na sua juventude despertou para a sua vocação e missão ao ouvir a voz do Crucifixo de S. Damião; agora, dois anos antes da sua morte, vem o mesmo Crucificado carimbar o seu frágil corpo com as Chagas do Senhor. Apoderou-se então de Francisco a certeza de ter vivido sempre a letra e o espírito do Santo Evangelho. Com o seu ser carismático e a sua vida de profeta, Francisco saiu do mundo e entrou num mundo novo, converteu-se, mudou a sua vida, optou por Cristo Pobre e Crucificado.
A nossa sociedade precisa de propostas carismáticas, para aproximar Cristo da Humanidade. Como olhamos hoje para a Cruz de Cristo? Vemos nela a expressão do amor livre de Deus? Como renovar as nossas vidas, conhecendo, aceitando e integrando as nossas limitações? Como evitar a superficialidade com que olhamos para temas, como a ecologia, a paz, a fraternidade e a justiça? O que sabemos sobre conflitos e das suas resoluções, dos desafios ecológicos e das agressões climáticas? Qual o nosso empenho em actuar sobre as causa da pobreza, da mobilidade humana, dos fluxos migratórios, das políticas de segurança e das guerras em tantas regiões do mundo? Como me identifico com o mistério da Vida, Morte e da Ressurreição de Jesus? Como expresso a minha solidariedade com os crucificados e os excluídos que me cercam?
A figura do «leproso» no século XIII é a figura de todos os descartados do século xxi: a África esquecida, os idosos abandonados, países divididos, a limitação do acolhimento a refugiados e migrantes. Em todos estes sangram continuamente as Chagas de Cristo.
(Publicação conjunta da Missão Press)
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