O preço de uma escolha são as consequências inesperadas que dela advêm. Em todo o mundo, quase metade da população será chamada este ano a exercer o seu direito de voto. Em Portugal, isso acontece este mês. Escolher é um exercício da nossa liberdade, mas o problema surge quando alguns tentam incutir que a orientação da nossa escolha é de natureza religiosa.
Na religião vivemos a dimensão espiritual humana que estabelece na vida um re-ligar à essência da nossa existência que é Deus-Trindade. A política é a arte de quem procura o bem comum, servindo a sociedade para assegurar que todo o ser humano seja digno, livre e respeite os outros. Um partido dito «cristão» é um contra-senso religioso porque em todos os partidos estão presentes (ou deviam estar) pessoas cristãs. A religião não pode ser a bússola da nossa escolha. Caso contrário, seria semelhante aos gritos ridículos dos adeptos das equipas A e B, cada um pedindo a Deus a vitória sobre o outro. Haverá bússola de escolha democrática que não exclua a dimensão espiritual?
Existem temas particularmente sensíveis aos crentes como a vida, a família e a liberdade religiosa. Um partido pode inspirar-se na doutrina cristã, mas isso não faz dele um partido cristão. É saudável haver pessoas cristãs e não-cristãs em qualquer partido político para garantir aquilo que me parece ser a melhor bússola de orientação política que não exclui a dimensão espiritual: o diálogo. Habitualmente centramos as escolhas em pessoas particulares, mas a realidade é que votamos em conjuntos de pessoas e ideias.
As características que procuramos nas pessoas dos partidos que escolhemos para servir a população de um país incluem a honestidade e integridade de cumprir aquilo a que se propõem; a capacidade de liderar, mobilizando as pessoas através de uma comunicação clara e inspiradora; empatia e comprometimento social, expressando a sensibilidade às necessidades das pessoas, colocando-as acima dos interesses privados; competência e conhecimento para compreenderem que não somos um país isolado dos outros; visão de futuro e inovação para criarem as oportunidades que melhoram realmente a nossa vida; resiliência e adaptabilidade porque o mundo é incerto; e compromisso e respeito pela igualdade, não fazendo acepção de pessoas, mas reconhecendo a riqueza em cada um. Dentro da experiência religiosa que conheço melhor, todas estas características as encontro em Jesus. Além d’Ele ter revelado totalmente Deus, revelou-nos também a verdade sobre nós próprios.
Cada pessoa possui, classicamente, uma cor política com a qual se identificou em jovem e tende a mantê-la ao longo da sua vida. Porém, as novas cores oferecem discursos atractivos e aprenderam a manipular as mentes através dos meios digitais, dizendo aquilo que cada um quer ouvir mediante a análise personalista dos algoritmos. O perigo da prisão cognitiva é ser manipulado a pensar que escolhemos na liberdade.
Não é fácil escolher. Dá trabalho e exige atenção. A bússola do diálogo não é somente exterior, mas interior também. Porém, se o fazemos em consciência plena, libertos de qualquer conotação religiosa, não há ninguém que não vote bem.
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