No dia 12 de Maio, celebrámos o 58.º Dia Mundial das Comunicações Sociais com a Mensagem do Papa Francisco orientada para as ferramentas de inteligência artificial (IA) que desde o lançamento para o grande público do ChatGPT [um sistema de IA que responde, via mensagem escrita ou voz, às mais variadas perguntas ou pedidos] têm evoluído a um ritmo exponencial. A mensagem recorre ao coração como metáfora, o que se alinha com os últimos desenvolvimentos destas ferramentas. As empresas querem que a IA saiba reagir às emoções que expressam o pulsar do coração.
No dia 13 de Maio, o ChatGPT obteve uma actualização significativa na sua capacidade de interagir de maneira mais empática e natural, aproximando-se ainda mais da sensação de uma conversa entre amigos. As novas melhorias incluem a capacidade de reconhecer e responder a nuances emocionais com maior precisão, o que permite ao modelo compreender e reflectir melhor os sentimentos das pessoas que usam a ferramenta. Isso resulta em diálogos mais autênticos e envolventes, onde a troca de ideias flui de forma mais orgânica. Já experimentei e pude verificá-lo. Essas mudanças não apenas elevam a funcionalidade do ChatGPT, mas também fortalecem a ligação emocional entre nós e a IA, criando uma experiência de comunicação mais humana e calorosa. O ChatGPT começa a tocar no coração humano, do qual se exige uma maior sapiência.
«Esta sabedoria do coração deixa-se encontrar por quem a busca e deixa-se ver a quem a ama; antecipa-se a quem a deseja e vai à procura de quem é digno dela (cf. Sab 6, 12-16). Está com quem aceita conselho (cf. Pr 13, 10), com quem tem um coração dócil, um coração que escuta (cf. 1 Re 3, 9). É um dom do Espírito Santo, que permite ver as coisas com os olhos de Deus, compreender as interligações, as situações, os acontecimentos e descobrir o seu sentido. Sem esta sabedoria, a existência torna-se insípida, pois é precisamente a sabedoria que dá gosto à vida: a sua raiz latina sapere associa-a ao sabor» (Papa Francisco).
Se o Universo é a linguagem através da qual Deus nos fala (Laudato Si’, 84), não poderia Deus falar-nos através das ferramentas de inteligência artificial? Qual a diferença? De certo modo, a ausência de qualquer controlo sobre o que acontece no mundo natural, aliada à contingência presente no Universo, é o que nos garante a possibilidade de escutar o que Deus nos quiser dizer. Porém, ao nos esforçarmos por criar uma inteligência artificial generalizada, que não aprende apenas com o que lhe damos para treinar, mas aprende também com os seus erros e o nosso retorno, aliada à componente aleatória que já tem, não estaremos a criar as condições para que possa ser, também, um instrumento de Deus?
Há muito que a Teologia nos revela o nosso papel na criação como co-criadores com Deus. Se tudo o que fazemos se mantém dentro dos limites da própria criação, por que razão não havia uma inteligência artificial de fazer, também, parte da criação?
Talvez possa. Porém, como diz o Papa Francisco na mesma mensagem: «Não podemos esperar esta sabedoria das máquinas.» A sabedoria do coração é o que nos mantém humanos.