Opinião
18 junho 2024

Sentar-se

Tempo de leitura: 4 min
Às ocasiões em que encontramos Jesus sentado, podemos associar actividades como ensinar, descansar e encontrar.
P. Fernando Domingues
Missionário Comboniano
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À procura de Jesus nos Evangelhos, encontrei-o sentado pelo menos uma dezena de vezes (talvez haja mais!). O que encontramos no Evangelho não foi lá escrito por acaso, então procurei ver o que acontecia quando Jesus se sentava. Às ocasiões em que o encontramos sentado, podemos associar actividades como ensinar, descansar e encontrar. 

O Jesus que ensina aparece com solenidade em Mateus (5,1ss); perante a multidão que vinha ao seu encontro, «sobe à montanha e senta-se» como antigamente tinha feito Moisés para ensinar ao seu povo a Lei de Deus! Assim, Jesus ensina agora a Nova Lei que são as bem-aventuranças. Também com alguma solenidade ensina as parábolas entrando num barco e afastando-se um pouco para poder ser visto e ouvido por todos os que estavam na praia (Mt 13,1-9).

Outras vezes Jesus ensina com menos solenidade, mas de maneira que fica inesquecível, como quando se senta na frente da caixa das esmolas no templo, em Jerusalém, e mostra como a velhinha que deitou duas moeditas deu mais do que todos os outros (Mc 12,41-44). 

É também no templo que, sentado, recebe o grupo de acusadores que lhe traziam uma mulher adúltera (Jo 8,1-11). Desta vez, diante da dor que percebia na vida daquela mulher, tentou ensinar com o seu silêncio; mas não bastou, precisou de dizer «quem nunca pecou, atire a primeira pedra!» Tendo ficado a sós com Jesus, escutou dele o ensinamento que iria transformar a sua vida: «Eu também te não condeno.»

Na sinagoga da sua terra, Nazaré, senta-se depois de ler a profecia de Isaías que anuncia com alegria o «Ano de Graça [jubileu] de Deus», afirmando que na sua própria pessoa se estava a cumprir a Palavra do Senhor (Lc 4,20-21).

O que parece uma coisa banal – Jesus senta-se junto ao poço de Jacob porque estava cansado da viagem – dá ocasião ao seu encontro com a samaritana de Sicar (Jo 4,6-10). No encontro, ela acabou por conhecer «aquele que dá a Água Viva», e para nós fica a história da primeira mulher missionária que evangeliza a sua cidade e conduz a sua gente até Jesus.

À mesa, Jesus senta-se em casa do cobrador de impostos Zaqueu, escandalizando os que pensavam que gente daquela laia não merecia a companhia de Jesus (Lc 19,1-10). Vamos encontrar Jesus sentado à mesa em pelo menos mais duas ocasiões: na última ceia com os seus discípulos para antecipar com eles a Eucaristia que se havia de tornar o mais belo momento de encontro entre Ele e os seus discípulos pelos séculos fora; e em Emaús, (Lc 24) quando, depois de um dia de caminhada com um casal de discípulos (Cléofas e a sua esposa?) sem que o reconheçam, estando à mesa, «diz a bênção, parte o pão e o dá», abrindo-lhes os olhos, a eles e a nós também, que agora sabemos reconhecer a Sua presença connosco sempre que nos sentamos à mesa da Eucaristia e vemos o mesmo gesto escutando as mesmas palavras. Tal descoberta, fez-lhes esquecer o cansaço do dia, e voltaram logo a Jerusalém para dar aos outros a boa notícia de que Ele tinha ressuscitado e caminhava com eles. É com a força que vem dessa mesma mesa à qual Ele se senta connosco que também nós continuamos a partir para levar o Evangelho a muitos outros.   

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