O mundo está sempre a mudar. Esta consciência da revolução temporal acontece na sequência do trabalho de Charles Darwin, mas apenas a ideia de selecção natural é insuficiente. Pois, o mundo muda em que direcção e sentido? É nesta fase que os pensamentos começam a divergir em duas vertentes.
Uma vertente atribui as mudanças ao fruto de um acaso, uma alteração aleatória, uma mutação inesperada. Porém, esse pensamento associa-se mais ao nível daquilo que acontece à matéria biológica, mas torna-se inaplicável à matéria cultural. A outra vertente considera haver por detrás de cada mudança uma intenção, um telos. Ou seja, na interioridade de cada coisa que muda existe uma propensão para mudar numa certa direcção e sentido. Creio que existe uma lei que une ambas as vertentes e as explica como sendo uma só coisa. A lei da complexidade-consciência, formulada pelo jesuíta e paleontólogo Teilhard de Chardin (1881–1955).
Teilhard notou que o aumento de complexidade nos elementos do mundo natural parecia estar acompanhado de uma intensificação da consciência que ocorre na interioridade desses elementos. Contudo, para ligar o aumento da complexidade à intensificação da consciência seria necessário haver um espaço de possibilidades (acaso) onde os relacionamentos entre os elementos ofereçam, por assim dizer, a cada um, a possibilidade de experimentar a consciência adequada à sua condição. Não é só de humanum que vive a consciência.
Em 2012, um grande grupo de investigadores das ciências cognitivas assinou a que ficou conhecida como A Declaração sobre a Consciência de Cambridge onde afirmam: «A ausência de um neocórtex não parece impedir um organismo de experienciar estados afectivos. Evidências convergentes indicam que os animais não humanos possuem os substratos neuroanatómicos, neuroquímicos e neurofisiológicos dos estados conscientes, juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os seres humanos não são únicos em possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos.»
O mundo muda na direcção de uma maior complexidade de relacionamentos contingentes a partir dos quais emerge a consciência à medida da condição de cada um.
Contudo, a complexidade gera diversidade e a consciência gera diferentes níveis de interioridade. Poderá essa diversidade ser sinal de fragmentação do mundo e as várias interioridades sinal de discriminação?
É aqui que as pessoas se esquecem do elemento final da lei da complexidade-consciência formulada por Teilhard: o ponto ómega. Um ponto que se alimenta de duas razões: o amor e a sobrevida. O amor mantém a diversidade unida. A sobrevida reconhece que o espaço e o tempo são apenas uma passagem para o que está além desses. O ponto ómega é o ponto de convergência no fim do mundo que muda.