Com o mês de Julho e Agosto vivemos o Verão, um ambiente mais disponível para estabelecer relações com os outros, com a Natureza, connosco próprios. Das palavras para a missão, aquela que poderá ajudar mais neste período talvez seja «diálogo»; isto é, uma reflexão que ajude a comunicar melhor e a escutar mais, a rever as nossas atitudes e construir relações enriquecedoras durante as férias. Proponho, por isso, que falemos da missão como diálogo para vivermos também este período do ano como cristãos, com um sentido de missão e de um testemunho a dar e a receber.
O modelo da missão como diálogo impôs-se sobretudo no rescaldo do Concílio Vaticano II (1962-1965), como óbvia consequência da reviravolta que este concílio procurou imprimir às relações da Igreja com o mundo. Vínhamos de um passado de confrontação e anátemas, sobretudo após o Concílio Vaticano I (1870), entre a Igreja e a modernidade. O Vaticano II procurou ultrapassar esse ambiente e estabelecer com o mundo da cultura, da política, das religiões e da não crença um relacionamento diverso pautado pelo respeito e pelo diálogo. As palavras de abertura da constituição pastoral sobre a Igreja no Mundo de Hoje causaram um sobressalto de espírito: «As alegrias e as esperanças das pessoas de hoje, especialmente dos pobres e de quantos sofrem, são as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo e não há nada de genuinamente humano que não encontre eco no seu coração.» No seguimento desta declaração de princípios, o concílio elaborou um decreto sobre o diálogo com as demais confissões cristãs, uma declaração sobre as religiões não-cristãs e uma declaração sobre a liberdade religiosa, afirmando a liberdade de consciência e reconhecendo os valores de cada religião.
Esta abertura conciliar apanhou de surpresa muitos católicos: como conciliar esta abertura com a pretensão cristã de que «há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus que se ofereceu a si mesmo em resgate por todos» (Paulo, 1 Timóteo 2, 4-6); como conciliar a fé num só Deus com um projecto de salvação para todos e a unidade e centralidade de Cristo no anúncio cristão?
No pós-concílio, as dificuldades agigantaram-se porque não faltou quem interpretasse mal o diálogo: enquanto o concílio o sugeria como modo de relacionamento e de estar no mundo e atitude para o encontro com a diversidade, não faltou quem o interpretasse de modo radical; isto é, como nivelamento de toda a verdade e de todas as religiões. Naturalmente não era isso que o concílio entendia, mas sim um modo de estar, de propor sem impor e de acolher a verdade que as outras religiões e pessoas têm para partilhar connosco.
A promessa de Deus a Abraão é destinada a toda a Humanidade: Deus quer que toda a pessoa se salve, encontre sentido e viva em plenitude. É ao serviço desta promessa que se colocam os cristãos, assumindo o diálogo como atitude que anima sempre a missão da Igreja e que os leva a viverem o anúncio desta promessa, renovada no Evangelho de Cristo, que se propõe e nunca se impõe. Neste sentido, a frequentação quotidiana que os cristãos vivem, entrando em contacto com homens e mulheres de outras religiões ou pessoas sem fé alguma, torna-se um colóquio marcado pelo diálogo, pelo respeito recíproco e serviço gratuito.